Afinal, é possível fraudar as urnas eletrônicas brasileiras?

03/11/2014 15:24:04
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Afinal, é possível fraudar as urnas eletrônicas brasileiras?

A resposta para essa pergunta é: Claro que sim! Mas antes que vocês comecem a dizer “eu sabia!”, leiam o texto até o final.

Sempre no período pré-eleitoral começam a surgir dúvidas sobre a segurança das urnas eletrônicas. Chega a hora da apuração, e tudo corre tão bem, tão rápido, tão sem problemas, que o assunto simplesmente morre.

Morre até o segundo turno, quando os eleitores do candidato que perdeu desenterram o assunto. Por causa de todo o clima durante a campanha, da pouca diferença de votos, e também das redes sociais, que viralizam vídeos de depoimentos, essa eleição está sendo ainda mais questionada.

O tipo de urna eletrônica utilizada aqui no Brasil é classificada como de “Primeira Geração”. Ela não imprime um comprovante para que possa ser conferido pelo próprio eleitor, e também posteriormente permitir uma recontagem. Ela se baseia apenas na confiança de que todo o sistema é inviolável.

Não querendo defender esse sistema, pois acho que deveriam fazer testes com urnas que imprimam o voto, há uma justificativa para trabalharem assim.

A nossa urna é quase toda composta apenas de componentes eletrônicos. Só há o teclado com movimento mecânico. Componentes eletrônicos dificilmente apresentam problemas após um teste inicial sem falhas. Isso já não ocorre nas impressoras, pois suas engrenagens gastam com o uso.

A probabilidade de uma urna apresentar defeito durante uma eleição aumentaria enormemente se houvesse impressora. Seria um tal de comprovante agarrando, não sendo impresso, sendo impresso sem tinta, que talvez gerasse muito mais atraso na votação, além de mais desconfianças. Que o diga quem utiliza muito impressora no seu dia a dia.

Além disso, imprimir o comprovante só aumentaria ainda mais a dificuldade de uma fraude. Não tornaria o sistema totalmente inviolável.

Trabalho com informática desde 1986 (nossa.. já se passaram 27 anos!). Durante esses anos todos de experiência, já tive servidores invadidos que foram configurados por mim. Essa experiência me mostrou que seria muita arrogância dizer que um sistema é inviolável. Sempre há como, nem que seja com ajuda de pessoas “de dentro”. A NSA, Agência de Segurança Nacional americana, teve a ajuda das próprias empresas para bisbilhotar a vida dos usuários do Facebook, Microsoft, Google, entre outras.

Pela premissa de que não há sistema inviolável é que disse, lá na primeira linha, que é possível fraudar a eleição no Brasil. Na verdade, depois de tudo o que já li, não acredito que, na prática, isso possa ser feito.

Li alguns relatos de que um jovem de 19 anos adulterou o resultado da eleição de 2012 na Região dos Lagos, favorecendo um determinado candidato. O suposto hacker alegou que teve a colaboração de funcionários de dentro da empresa Oi, responsável pela transmissão de dados no Estado do Rio. Acho praticamente impossível que possa ter havido alguma fraude utilizando esse método, já que todo o tráfego é encriptado.

Se fosse possível alterar dados criptografados, os funcionários da Oi seriam todos ricos, alterando as contas correntes de destino nas transferências eletrônicas feitas através de home banking na internet.

Outro caso interessante é de um professor da Unicamp, chamado Diego Aranha. Ele coordenou, em 2012, um grupo que avaliou o programa que roda nas urnas eletrônicas. Esse professor conseguiu, em ambiente de laboratório, e tendo acesso aos programas, quebrar o sigilo do voto, fazendo com que fosse possível identificar em quem cada eleitor votou. Não conseguiu adulterar os votos, mas afirma que seria possível com o auxílio de alguém que tenha a chave utilizada para criptografar a transmissão.

Aproveitando a notoriedade alcançada por ter descoberto essa vulnerabilidade, ampliada quando participou de uma entrevista com o apresentador Danilo Gentili, lançou um aplicativo chamado Você Fiscal. Esse aplicativo, feito para Iphone e Android, tem a proposta de fazer uma apuração paralela. Recebeu até doações para auxiliar no desenvolvimento do projeto.

O funcionamento é simples. Tira-se uma foto do boletim de urna. O aplicativo então irá transferir essa foto para um servidor, que então irá conferir com o resultado divulgado pelo TSE.

Até agora ainda não divulgaram nada referente nem ao primeiro turno. Acessando a página do Facebook, já podemos ver alguns posts de pessoas impacientes cobrando algum retorno.

Esse aplicativo até pode descobrir alguma fraude, o que não acredito. O programa só verifica se houve fraude em uma pequena etapa de todo o processo de eleição, que é a transmissão de dados. Justamente a fase que acredito ser a mais difícil de alguém obter sucesso numa tentativa de fraude. Porém, se constatar alguma fraude, o que me garante que a pessoa que enviou a imagem não fez alguma alteração na foto tirada do boletim de urna? O Você Fiscal fiscaliza o TSE, mas quem fiscaliza o Você Fiscal?

Todos os casos de denúncias de fraude que vi até agora são altamente suspeitos. Nenhum me pareceu ser motivo para uma investigação mais aprofundada. Alguns casos de pessoas que constavam como se já tivessem votado até podem ser verídicos, mas nada que possa influenciar no resultado final, já que aparentemente são poucos casos. Mesários podem errar na digitação para liberar a urna para votação, fazendo com que um eleitor vote por engano no lugar de outro. Não acredito em má fé nos poucos depoimentos que achei na Internet.

Enquanto não aparecer um caso que realmente me pareça verídico, vou continuar achando que, apesar de possível, não ocorre fraude nas urnas eletrônicas do Brasil. Apesar disso, creio que o TSE poderia deixar tudo mais transparente se disponibilizasse o código fonte do programa utilizado nas urnas. Assim, iria diminuir muito esse clima de desconfiança que paira sobre o nosso sistema de votação.

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