Recordações do Colégio Nova Friburgo da Fundação Getúlio Vargas

07/10/2020 11:20:11
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Em nossa existência, após décadas já vividas, acontecimentos do passado invadem nossa memória, de maneira surpreendente. Assim, lembrando de fatos acontecidos durante o período em que estudei no Ginásio Nossa Senhora das Dores, recordei de um ocorrido, em setembro de 1951.

A sua diretoria recebeu do Ginásio Nova Friburgo da Fundação Getúlio Vargas – inaugurado no ano anterior, em 1950 – um convite para que suas alunas comparecessem às festividades de comemoração do “Dia da Árvore”.
O novo educandário, localizado no “Parque da Cascata”, estava na fase de estabelecer relações de amizade com os demais estabelecimentos de ensino.
Com pouco tempo de funcionamento, já se destacava por adotar a pedagogia dos melhores colégios ingleses e americanos, e seria uma referência do ensino, em todo o país.

No que se referia à disciplina era, também, inovador. O lema “Liberdade com Responsabilidade” norteava os alunos que, aos domingos, frequentavam cinemas, sorveterias, lanchonetes, passeavam na praça, sem a vigilância de inspetores.

As Doroteias ficaram embaraçadas, com o convite. As suas alunas, quando saiam, eram acompanhadas por umas religiosas. Se agissem desta forma, seria uma atitude grosseira, parecendo que os alunos não mereciam confiança. Como agir?
Ficou decidido que iriam as alunas mais responsáveis e disciplinadas, e quase todas as escolhidas eram do Terceiro Ano Ginasial, da minha turma.

As festividades, no Colégio Nova Friburgo, tiveram início na tarde do dia 22 de setembro, por ser um sábado, com o plantio de várias mudas de árvores, quando alguns alunos e professores fizeram uso da palavra.

Depois, nos dirigimos à sala de recepções, onde se destacavam um piano, uma vitrola e magnífica lareira. Cada aluna do “Colégio das Irmãs” ocupou uma mesinha, em companhia de um aluno da “Fundação”, quando foi servido o lanche, constituído de sanduiches, bolos, biscoitos, refrescos, etc. Na vitrola, para alegrar o ambiente, eram tocados discos de sucessos musicais, da época. Às 18,30 h. deixamos o belo colégio, onde passamos horas memoráveis.

Por alguns dias, tais acontecimentos foram motivo de comentários entre as colegas, surgindo muitas indagações a respeito das origens, do mais novo ginásio da cidade. Para obtermos respostas, tivemos de retroceder no tempo.

Na década de 1930 e nos primeiros anos de 1940, muitos eram os cassinos em funcionamento no Brasil: Na cidade do Rio de Janeiro, os Cassinos Atlântico, do Copacabana Palace, da Urca; em Niterói, o Cassino Icaraí; em Belo Horizonte, o Cassino da Pampulha; em Caxambu, Cassino Glória; em Poços de Caldas, Palace Cassino; em São Lourenço, Hotel Brasil; em Lambari, Cassino do Lago; em Araxá, Grande Hotel. O que se tornou mais famoso, foi o do Hotel Quitandinha, em Petrópolis.

Nova Friburgo possuía o Hotel Cassino Turista (hoje, no local, o Edifício União), mas Dr. Demerval Barbosa Moreira teve a ideia de construir um hotel, com instalações mais modernas, para abrigar um novo cassino. Adquiriu, por compra, de herdeiros do libanês José El-Jaick, uma extensa área, no bairro da Vila Nova, no alto do “Morro da Cascata” (nome devido a uma exuberante cascata, no local).

As obras do prédio tiveram início. Por tratar-se de uma construção bem grande, e para que fosse concluída o mais breve possível, o prédio foi dividido em três alas: duas laterais e a parte central. Cada uma foi confiada a um construtor com sua equipe de operários. Um dos construtores era Henrique Leal, irmão de D. Adelina Leal Pinto, esposa de Aristão Pinto, proprietário do Cinema Eldorado.

Realmente, tudo transcorreu dentro do prazo previsto pelo seu proprietário. Obra concluída, todos os cômodos mobiliados, utensílios de copa e cozinha adquiridos, e em seus devidos lugares. Para marcar a data da inauguração do “ Hotel Cassino Cascata”, só faltava a compra dos enxovais de cama, mesa e banho.

Antes que esta última providência fosse tomada, uma notícia explodiu como uma bomba, em todo o país, no dia 30 de abril de 1946: “ Pelo Decreto-lei nº 9215, assinado pelo Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, estava proibida a prática ou a exploração dos jogos de azar, em todo o território nacional”. Os proprietários dos cassinos entraram em pânico, sem saber que destinação dar a estes luxuosos e requintados espaços destinados a exploração do jogo.

Em Nova Friburgo, não foi diferente. Somente, no ano de 1948, foi oficializada a proposta de criação do Ginásio Nova Friburgo, quando foi aprovado um convênio – encaminhado pelo Prefeito César Guinle – pelo qual a Fundação Getúlio Vargas compraria o terreno, no qual situava-se o imóvel do Hotel Cascata. O que, de certa forma, contribuiu para este desfecho positivo, foi o bom relacionamento entre o Prefeito César Guinle e Simões Lopes, Presidente da Fundação Getúlio Vargas, na época, e o empenho do Prof. Jamil El-Jaick, junto ao Ministério da Educação.

As obras, para adaptar o prédio do hotel em colégio, foram logo iniciadas e, em abril de 1950, tiveram início as suas aulas.
O Colégio Nova Friburgo funcionou durante 27 anos, tendo suas atividades encerradas no ano de 1977, para desgosto de ex-alunos, antigos professores e funcionários e da população, em geral, que nunca se conformaram com o seu fechamento.

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