A INAUGURAÇÃO DA ESTRADA DE FERRO DE NOVA FRIBURGO

16/09/2023 20:23:49
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( no ano do seu sesquicentenário- 150 anos – 1873 / 2023)

Foi o 1º Barão de Nova Friburgo, Antônio Clemente Pinto, o iniciador da construção da Estrada de Ferro que ligaria Niterói a Cantagalo, obtendo do governo a concessão, em 1857, segundo Carlos Rodolpho Fischer, em sua obra “Nova Friburgo Em Quatro Tempos”.

De acordo com o referido autor, no ano de 1859, foi iniciado o trecho Porto das Caixas/Cachoeiras de Macacu, concluído em 1860. Com a morte do 1º Barão, no ano de 1869, o seu filho Bernardo Clemente Pinto, o 2º Barão de Nova Friburgo, levou adiante o projeto de seu pai, da construção da estrada de ferro.

O trecho Cachoeiras/Nova Friburgo foi reiniciado, em 25-3-1870 sob a orientação do Engenheiro Theodoro de Oliveira e concluído três anos depois.

A solenidade de inauguração da ampla Estação Ferroviária de Nova Friburgo, deu-se em 18 de dezembro de 1873, contando com a presença do Imperador D. Pedro II.

A ferrovia prosseguiria, cortando ainda outros municípios do interior, como Cantagalo, inaugurada, no dia 16 de setembro de 1876.

Em Nova Friburgo, o primeiro prédio da estação, após seis décadas, era substituído por um novo (atual sede da Prefeitura Municipal) inaugurado no dia 2 de junho de 1935. Para a solenidade compareceu o Interventor do Estado do Rio de Janeiro, Comandante Ary Parreiras, acompanhado do Secretário Estadual de Obras Públicas e ainda Dr. Americano Freire e grande comitiva. A Banda Musical Campesina Friburguense abrilhantou o evento, com a execução de vários dobrados, e o jornal “O Friburguense” dedicou sua primeira página ao grande acontecimento municipal.

O imóvel, em questão, de dois pavimentos, em estilo colonial, para abrigar uma estação ferroviária, era um dos mais bonitos do Estado do Rio de Janeiro. No sobrado, residia o Agente da Estação. No térreo, havia na entrada, um espaçoso “hall”, onde se encontravam as bilheterias; uma larga e extensa plataforma cimentada; local para despachar as bagagens e mercadorias; sanitários para damas e cavalheiros, dotados de salas de estar confortáveis; um amplo e arejado restaurante para viajantes e passageiros, famoso pela comida de excelente qualidade, com iguarias saborosas e variadas. Era administrado pela Sra. Adélia Cunha Macedo, auxiliada pelo seu filho mais velho Arlindo Macedo, o “Moreno”.

Nos fundos do prédio, em vasto terreno, ficavam as oficinas para os reparos dos carros e das locomotivas, e a caixa d’água para abastecê-las.

A figura de destaque da estação ferroviária era Dona Elvira Afonso, a zeladora do sanitário feminino, que pela sua dedicação, era conhecida por “Dona Elvira da Estação”. De alma romântica, estava sempre a compor e a dizer alguma poesia. Era clara, corada, de olhos de intenso azul (cujos óculos de grau não conseguiam esconder a beleza), cabeleira branca, apaixonada pelas tradições friburguenses. Enquanto confeccionava delicadas flores de pessegueiro e crisântemos matizados, rememorava a sua mocidade, narrando as competições de patins, realizadas no ringue existente no final da praça (hoje, Rodoviária Urbana), das quais participava, sendo quase sempre, campeã.

Quanto aos trens, conforme a variedade dos horários e dos destinos, recebiam diferentes denominações: “ Expresso”, “Passeio”, “Jaú”, “Sumidouro”, Misto”, “Rápido”. Este último, seria o mais recente horário a ser estabelecido. Do Rio saía um trem às 12:15 horas, outro partia de Niterói, às 12:40 horas e se encontravam em Visconde de Itaboraí, formando uma só composição. Chegava a Friburgo, às 17:00 horas.

Tornar-se-ia um hábito dos friburguenses, nas tardes de sábado, de verão, esperar a chegada do “Rápido”, com seus alegres veranistas (como eram chamados os turistas, na época). O saguão da estação ficava repleto de curiosos que iam apreciar, principalmente, os trajes das senhoras.

O transporte dos empregados, que iam fazer a manutenção das estradas de ferro, era feito por “troley”, um carrinho que eles movimentavam, utilizando longas varas. Os funcionários mais graduados e os diretores faziam uso do “carro de linha”, semelhante a um bonde pequeno, mas todo envidraçado.

Uma rede ferroviária exigia para o seu funcionamento, uma grande equipe de funcionários, que são chamados de “ferroviários”. São eles: os Agentes da Estação, os Telegrafistas, os Condutores, os Guarda-freios, os Guarda-chaves, os Bilheteiros, os Foguistas, os Maquinistas. Dentre estes últimos, o mais popular era Adalberto Pinho, um negro alto, magro, muito falante que, algumas vezes, seria candidato a vereador. Seu “slogan” era o seguinte: “Quem vota em Adalberto Pinho, não vota em branco”. Ele nunca conseguiu se eleger para a Câmara Municipal.

Os passageiros podiam contar com o auxílio dos “Carregadores”, para levar as suas bagagens. Os mais antigos, e mais solicitados, eram o “Número Um” e o “Número Dois”. Um deles só tinha parte de um dos braços, mas desempenhava, mesmo assim, com agilidade a sua função.

Onde hoje está o quartel da Polícia Militar, ficava a “Estação de Cargas”, e sobre o Rio Bengalas, quase à sua frente, se destacava uma ponte de ferro, com vários arcos, idêntica à de Riograndina.

Em Conselheiro Paulino, havia uma pequena estação de passageiros, nas imediações da atual quadra da agremiação carnavalesca “Alunos do Samba”.

O trem era o símbolo de Nova Friburgo. Quando ele passava garboso, pelas nossas ruas principais, badalando o sino, o friburguense se entusiasmava e o seu coração transbordava de orgulho. O único dia do ano, em que o seu sino emudecia, era na Sexta-feira Santa.

Infelizmente, em nome do progresso, e com o desenvolvimento da indústria automobilística em nosso país, muitas linhas férreas foram suprimidas no Brasil, inclusive a nossa, após 91anos de atividade, cujo trem cruzou a cidade, pela última vez, em 15 de julho de 1964. A máquina, toda enfeitada de flores, puxando alguns carros, seguia imponente, apitando e batendo o sino. A emoção tomou conta do público.

No dia 11 de dezembro de 1965, na administração do Prefeito Heródoto Bento de Mello, para consolo dos friburguenses, a majestosa “Locomotiva ll6” era colocada no centro da Praça Getúlio Vargas. Chegou ao local, por um desvio efetuado na linha férrea, que ainda não fora retirada.

Permaneceu ali, por dois anos incompletos, quando o novo governo municipal, no mandato de Dr. Amâncio Azevedo, achou por bem, removê-la da praça. Como agir, se a antiga linha férrea já não existia?

A solução encontrada foi cortá-la aos pedaços, por potente maçarico. E foi o que aconteceu, no dia 26 de outubro de 1967, quando a garbosa “116” foi destruída.

Só restou um misto de inconformidade e de uma dolorida e melancólica saudade!…

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