COMO SURGIU A CASA MADRE ROSELLI

16/07/2024 20:15:16
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                                            A   BENEMÉRITA   CASA    MADRE   ROSELLI

                                                             

Introdução

Em certo dia, do final da década de 1950, início dos anos 60, estava o saudoso jornalista Ângelo Ruiz, na redação do jornal “A Paz”, à Rua São João, atual Monsenhor José Antônio Teixeira (conforme seu relato), quando foi informado de que havia alguém querendo lhe falar. Indagando a respeito de quem se tratava, soube que a pessoa era o Sr. Raul Sertã, o que lhe causou uma certa inquietação.                                                                                                            

Isto porque, dias antes, o referido senhor o havia repreendido, pela publicação de um artigo elogioso sobre a doação da grande área, na Rua General Osório, que ele fizera para a construção da Santa Casa de Misericórdia de Nova Friburgo (atual Hospital Raul Sertã). O Sr. Sertã era avesso à publicidade de suas obras de benemerência, querendo realizá-las, anonimamente.

Naquela tarde, segundo o Sr. Ângelo, ele fora procurá-lo, porque havia lido no jornal, que a Madre Roselli necessitava de uma casa para abrigar as suas meninas. O jornalista, atendendo a uma solicitação da mencionada religiosa, havia noticiado o apelo.

Havia na Rua General Osório n° 226, uma residência (construída em 1890, por Raphael Sanches), que estava à venda, e Raul Sertã levou Ângelo Ruiz ao imóvel, para que ele desse a sua opinião a respeito do mesmo. Enquanto percorriam as várias dependências, trocavam ideias sobre as adaptações e as obras que deveriam ser feitas para a instalação de salas de aula, refeitório, dormitório, capela, etc. Era de propriedade de uma herdeira do Sr. José Antônio Marques Braga Sobrinho, a Sra. Josefina Marques Braga Sertã, esposa do médico Dr. Mário Sertã, por coincidência, irmão do Raul.

Na ocasião, o prédio estava alugado ao Sr. José Dantas dos Santos (pai do futuro médico- ortopedista José Carlos Dantas dos Santos), que ali residia com a família, e tinha a preferência, por lei, de adquiri-lo.  Apesar da intenção do Sr. Dantas, em realizar o negócio, desistiu de fazê-lo, devido à altruística destinação que seria dada à casa, se comprada pelo Sr. Raul Sertã.

O contrato de compra e venda foi efetuado, mas o Sr. Sertã impôs uma condição: que nada fosse publicado a respeito do doador do imóvel para as “Obras Sociais da Instituição de Santa Doroteia” (nome oficial da “Casa Madre Roselli”) que, em terrenos do Colégio Nossa Senhor das Dores, funcionava em instalações modestas, mais ou menos, na área onde se encontra, atualmente, a cantina do citado colégio.                                                                    

Devido às obras realizadas no imóvel adquirido, a mudança tardou um pouco, mas no dia 13 de fevereiro de 1965, era inaugurado o prédio da Rua General Osório n° 226, com seus acréscimos e adaptações.

                                                                         II               

                                              Como surgiu a Casa Madre Roselli    

Nos primeiros anos da década 1950, quando eu estudava no Colégio Nossa Senhora das Dores, ali havia uma irmã, a Madre Maltez que cuidava de sete meninas desamparadas, às quais chamava “As Sete Servitas de Maria”. Elas moravam no próprio colégio, onde prestavam pequenos serviços. Morrendo Madre Maltez, as suas “servitas” foram acolhidas por Madre Roselli, professora de música no Curso Ginasial, que com o passar do tempo, foi adotando outras meninas carentes, sendo auxiliada por Madre Jane Magalhães de Castro (Filha de Irmã Zélia que morreu em “odor de santidade”, tendo abraçado a vida religiosa, quando enviuvou. Todos os seus filhos se tornaram padres, frades e freiras, sendo que o Frei João José Pedreira de Castro foi o idealizador do “Trono de Fatima”, em Petrópolis, inaugurado em 13 de outubro de 1947).

Madre Roselli e Madre Magalhães contavam com o auxílio de Madre Angélica Ribeiro, que trabalhava com grande devotamento e dedicação.

Muitas senhoras colaboravam com a obra, passando ali as tardes, separando rendas, galões bordados, que as fábricas enviavam para a execução de trabalhos manuais vendidos, para obtenção de algum dinheiro. Eram elas: Odimar e Georgina Silva Lima (respectivamente, esposa e irmã do médico Dr. Fernando da Silva Lima), Zuleika Alves Lopes (minha mãe), Celina Spinelli Carvalho, a esposa do Dr. José Moraes de Souza e outras das quais não me recordo o nome.  

As meninas ajudavam, conforme as habilitações próprias da idade, e muitas executam, com perfeição, bordados de vagonite (estilo de bordado) em toalhas. 

Muitas pessoas ofertavam sacos de mantimentos, quantias em dinheiro, e a obra possuía um amigo certo e prestimoso, o Sr. Raul Sertã que livrou Madre Roselli, de situações difíceis.

A assistência médica era dada às meninas, pelo clínico Dr. Salim Lopes (meu pai), e a espiritual, pelo jesuíta Padre Carlos Beraldo. 

Como o número de beneficiadas foi aumentando, as instalações para abrigá-las (no local onde se encontra, hoje, a cantina do colégio), estavam insuficientes e precárias. Não era possível continuar ali.  Era necessário encontrar uma casa ampla, confortável, que oferecesse às meninas um ambiente saudável.                                                                                       

Foi quando Madre Roselli pediu ao jornalista Ângelo Ruiz, que publicasse um artigo no jornal, pedindo ajuda para a aquisição de um teto, para as suas protegidas. E o benfeitor Raul Sertã, prontamente, atendeu ao seu apelo.

Madre Magalhães não viveu o suficiente para compartilhar da alegria da realização de um ideal. Já Madre Roselli teria a ventura de viver, durante muitos anos, na casa da Rua General Osório, com suas protegidas, num local espaçoso e confortável. Ela chegou até a conseguir, na época, dos órgãos municipais competentes, que ali funcionasse uma escola para as suas assistidas.

                                                                      III

                                                   Quem foi Madre Roselli 

Madre Roselli, cujo nome completo é Clélia Letícia Eulália Roselli, nasceu no Rio Grande do Norte. Fez o curso de piano, sendo formada em pintura, pela Escola de Belas Artes.  Abraçou a vida religiosa, ingressando na Congregação de Santa Doroteia.                                                      

Na capela do Colégio Nossa Senhora das Dores, em Nova Friburgo, tocava órgão nas solenidades religiosas, e lecionava música, no Curso Ginasial do referido colégio.  Dava aulas particulares de pintura e de piano (muitas eram as alunas internas que aprendiam a tocar o citado instrumento), sendo uma exímia restauradora de imagens.

Com o passar dos anos, o trabalho da obra social, cada vez, absorvia mais o tempo de Madre Roselli, então, ela se desligou dos compromissos com o ginásio.                        

Nas antigas instalações (ainda, em terreno do colégio), ia para a cozinha, arregaçava as mangas, prendia com um alfinete a capinha do hábito, punha um avental e, auxiliada pelas internas mais velhas, preparava as refeições.                                                                           

Em reconhecimento ao seu trabalho de filantropia, acolhendo meninas e adolescentes, tem o seu nome perpetuado em uma rua do bairro das Braunes (projeto de lei, do saudoso Vereador Celcyo Folly).             

A obra iniciada há 70 anos, tem o nome oficial de “Obras Sociais da Instituição de Santa Doroteia”, mas o povo – reconhecendo os méritos de sua fundadora- a rebatizou por “Casa Madre Roselli”, como é conhecida.

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