Estreia esta semana nos cinemas em Nova Friburgo O Agente Secreto. O filme é um drama com características neo-noir que se passa no Brasil de 1977, durante o período da Ditadura Militar, mas com foco na paranoia e na vigilância social da época. O protagonista é Armando, interpretado por Wagner Moura, um professor e pesquisador de tecnologia que foge de São Paulo para o Recife, na tentativa de escapar de ameaças de morte ligadas a um empresário com laços governamentais. A direção de Kleber Mendonça Filho, premiado em Cannes como Melhor Diretor por esta obra, mantém a estética visual apurada e a sensibilidade para o cotidiano já conhecidas em seus trabalhos anteriores (Aquarius, Bacurau). O filme utiliza uma fotografia granulada e um design de som opressivo para construir uma atmosfera de medo constante, onde o perigo está menos nos tiros e mais nos sussurros, nos olhares e na suspeita generalizada. O roteiro, assinado por Mendonça Filho, evita explicações diretas sobre a perseguição e o motivo exato das ameaças, transformando a busca de Armando por refúgio em um estudo sobre a psicologia do medo e a fragilidade da identidade em tempos de repressão. A narrativa é rica em referências e easter eggs culturais e cinematográficos, misturando elementos de thriller político com toques de surrealismo e lenda urbana, como a Perna Cabeluda, figura do folclore pernambucano, que surge ironicamente como metáfora para a distorção da verdade. As atuações são um ponto alto, com Wagner Moura em uma performance intensa e contida, e um elenco coadjuvante robusto, incluindo Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone e Alice Carvalho, que ajuda a construir um universo opressivo, porém cheio de humanidade. O filme foi escolhido para representar o Brasil no Oscar 2026. O diretor, mais uma vez, usa o cinema para fazer uma crítica contundente à história do país, equilibrando a erudição do thriller com um profundo afeto pelas pessoas e pelas referências da cultura nordestina. Vale muito o ingresso e a indicação etária é para maiores de 16 anos.
Outra estreia dessa semana nos cinemas é Predador: Terras Selvagens. Esse filme transporta a franquia para um enredo futurista em um planeta remoto e inóspito chamado Genna. A trama subverte a fórmula tradicional ao colocar o alienígena no papel de protagonista. Dek, um jovem Predador rejeitado por seu clã, que se alia a Thia (Elle Fanning), uma ciborgue. Juntos, eles embarcam em uma jornada de sobrevivência para confrontar o clã Yautja e o “adversário supremo”, com o objetivo de redefinir a honra e a caçada. A direção de Dan Trachtenberg é elogiada por manter o foco na ação visceral e no suspense tático, características que fizeram de A Caçada um sucesso. Ele constrói o planeta Genna como um personagem à parte, utilizando a fotografia impressionante, filmada na Nova Zelândia, para criar uma estética selvagem, perigosa e ao mesmo tempo bela. A direção de arte e os efeitos visuais privilegiam o uso de efeitos práticos e realismo físico, resgatando a sensação tátil de perigo que muitos blockbusters modernos perderam. O roteiro, assinado por Trachtenberg e Patrick Aison, é ambicioso e se destaca por humanizar o Predador. Pela primeira vez, o Predador ganha voz e demonstra dilemas morais, o que é a maior inovação e, ao mesmo tempo, o maior ponto de debate. No elenco Elle Fanning oferece carisma e profundidade em um papel duplo desafiador (Thia e sua gêmea vilã, Tessa), enquanto Dimitrius Schuster-Koloamatangi (Dek) confere uma presença magnética ao jovem Predador. O filme é um espetáculo de ação e ficção científica que revitaliza a mitologia. Alguns fãs da franquia podem ver a humanização de Dek como um enfraquecimento da brutalidade e do terror característicos da saga, em uma tendência a suavizar a narrativa para se encaixar em uma “fórmula Disney” mais palatável, mas o ponto é que a empatia e a abordagem emocional são justamente o que tornam este o Predador mais interessante em décadas, transformando o monstro em um inesperado símbolo de coragem e identidade. Vale muito o ingresso e a indicação etária é para maiores de 16 anos.
A última estreia desta semana nos cinemas em Nova Friburgo é Quando o Céu se Engana. É a estreia de Aziz Ansari na direção de longas, transportando sua sensibilidade para uma comédia sobrenatural com subtexto social. O enredo gira em torno de Arj (Ansari), um trabalhador da economia gig frustrado, cuja sorte é trocada acidentalmente com a de Jeff (Seth Rogen), um bilionário do Vale do Silício, por intervenção do anjo Gabriel (Keanu Reeves), bem-intencionado, mas desastrado. Essa premissa de troca de vidas serve como uma base para criticar a desigualdade de classes e a busca por propósito na sociedade moderna. A direção de Ansari é notavelmente madura e esteticamente agradável, equilibrando o humor com uma melancolia reflexiva, um estilo que lembra o seu trabalho em Master of None. O filme evita o moralismo barato ao utilizar o absurdo da intervenção celestial para fazer observações afiadas sobre o capitalismo tardio. No elenco Keanu Reeves se destaca no papel de Gabriel, injetando uma inocência e doçura que se tornam um grande chamariz do filme. O trio principal, completado por Ansari e Seth Rogen, mantém uma dinâmica funcional para a comédia de situação. Sandra Oh e Keke Palmer também recebem menções por reforçar um elenco diverso e talentoso. É uma comédia inteligente e emocionalmente madura, que consegue ser divertida sem abrir mão da reflexão. Contudo, apesar do filme carregar uma mensagem social oportuna sobre a consciência de classe, falta uma mordida mais forte na crítica. É uma fábula moderna e espirituosa que, apesar de não ser totalmente livre de falhas estruturais, prova que o humor pode ser refinado e profundamente humano. Vale o ingresso e a indicação etária é para maiores de 12 anos.
A dica desta semana para assistir em casa vai para Os Donos do Jogo. Série da Netflix que está em como a mais assistida no Brasil neste momento, é um drama de máfia carioca com alta qualidade de produção, explorando as disputas por poder no universo do jogo do bicho e das apostas digitais. Tecnicamente, a direção é intensa com um roteiro ágil e focado na sucessão e nas traições familiares. Destaque para o elenco com André Lamoglia e Juliana Paes, e muitos outros nomes de peso. Socialmente é uma ficção menos complexa do que obras documentais sobre o tema. Em resumo, é uma produção nacional ambiciosa e bem executada, que cumpre seu objetivo de entreter com um drama de máfia familiar intenso, visualmente atraente e com um ritmo frenético.









