Estreia esta semana nos cinemas em Nova Friburgo Coração de Lutador – The Smashing Machine. Essa é uma cinebiografia que se recusa a seguir a fórmula edificante dos dramas esportivos. O filme da A24 mergulha na trajetória de Mark Kerr, uma lenda do MMA nos anos 1990 e 2000, conhecido como “The Smashing Machine” (“A Máquina Esmagadora”). Em vez de glorificar as vitórias de Kerr no octógono, o diretor e roteirista Benny Safdie está interessado no colapso da masculinidade e na destruição íntima que acontece fora dele. O grande ponto de atração do filme é, inegavelmente, a transformação de Dwayne “The Rock” Johnson. O ator, conhecido por seus blockbusters de ação e seu carisma invencível, entrega aqui o papel mais denso e vulnerável de sua carreira. Com uma caracterização física impressionante, que o distancia de seu habitual arquétipo de herói, Johnson convence como um gigante em ruínas, travando uma batalha silenciosa contra o vício em analgésicos e opioides. A direção de Safdie é fundamental para o tom do filme. Ele utiliza planos fechados e closes intensos para criar uma proximidade desconfortável com a crise interna de Kerr. As lutas, embora filmadas com precisão e autenticidade, sem a romantização exagerada típica do gênero, raramente são tratadas como clímax, mas sim como atos físicos de tragédia. O que realmente importa são os diálogos íntimos e as tensões domésticas, muitas vezes filmados como “rounds verbais” no ringue de casa. No contraponto, a renomada Emily Blunt interpreta Dawn Staples, a esposa de Kerr, e oferece o contraponto emocional essencial. Ela representa a fragilidade de quem convive com um campeão em crise e é crucial para empurrar o filme para além da simples biografia de lutador. Infelizmente o roteiro não concede a Emily Blunt o espaço que sua personagem e sua atuação mereciam, deixando-a por vezes, em uma posição secundária para focar na jornada de autodestruição do protagonista. O filme é um retrato cru da dependência, da pressão estética no esporte e da masculinidade tóxica, mas ele pendula entre ser um drama psicológico devastador e um filme de luta, evitando mergulhar profundamente nas razões mais complexas dos colapsos de Kerr. Mesmo com suas irregularidades, a performance surpreendente de Dwayne Johnson e o olhar cru de Benny Safdie fazem dele um marco na filmografia de ambos. Vale sim o ingresso e a indicação etária é para maiores de 16 anos.
Outra estreia desta semana é Malês. Com roteiro assinado por Manuela Dias e dirigido por Antônio Pitanga, o longa tem a missão de levar às telas a história da Revolta dos Malês, o maior levante urbano de pessoas escravizadas no Brasil, ocorrido em Salvador em 1835. A produção, que contou com um elenco majoritariamente negro e estrelado pela própria família Pitanga com Antônio Pitanga, Camila Pitanga e Rocco Pitanga é, antes de tudo, um ato de resgate da memória e de celebração da luta ancestral do povo negro. A narrativa acompanha a trajetória de um casal muçulmano recém-casado, separados pela crueldade da escravidão ao serem trazidos à força da África para o Brasil. Enquanto lutam para sobreviver e se reencontrar, eles se envolvem no levante, que se torna o motor central da história. A grande força do filme reside justamente na sua temática e no seu compromisso histórico. O filme é um convite urgente para o público brasileiro confrontar as narrativas de resistência apagadas dos livros e reconhecer a luta organizada por liberdade. No entanto, a jornada de Pitanga para levar a história ao cinema após 29 anos de espera não resultou em um trabalho totalmente homogêneo. Apesar da importância e da força das atuações, com destaque para Rocco Pitanga e Rodrigo de Odé, o filme por vezes padece em aspectos técnicos de ritmo. A produção apresenta problemas de continuidade e furos no roteiro, assim como o desenvolvimento de alguns personagens, como Sabina (Camila Pitanga), poderia ter recebido mais espaço para aprofundamento, apesar da maestria com que a atriz interpreta as cenas que lhe são dadas. Em certos momentos, parece um especial feito para TV, o que não diminui a importância do tema, mas afeta a experiência cinematográfica. Embora possa não alcançar a excelência técnica, sua narrativa de resistência ressoa de forma profunda, provocando reflexões essenciais sobre o Brasil de ontem e de hoje, e garantindo que essa luta por liberdade seja finalmente vista e valorizada. É, sem dúvida, uma obra que merece ser discutida em salas de aula e guardada na caixa forte do cinema nacional. Vale sim o ingresso e a indicação etária é para maiores de 16 anos.
Estreia também nesta semana Goat. Dirigido por Justin Tipping, o filme se propõe a ser um terror psicológico e corporal que utiliza o ambiente do futebol americano de elite para fazer uma crítica ácida e satírica à cultura da obsessão e da excelência a qualquer custo. O enredo acompanha Cameron Cade (Tyriq Withers), um quarterback em ascensão que, após sofrer um trauma cerebral, é convidado para um retiro de treinamento isolado por seu ídolo, o lendário Isaiah White (Marlon Wayans). A premissa de um jovem atleta que busca desesperadamente a redenção e a grandeza em um ambiente de culto é rica e promissora, alinhando-se com o tipo de comentário social que se espera de uma produção com o selo da Monkeypaw de Jordan Peele. A produção tropeça na execução do seu próprio conceito ambicioso. A estética visual de Tipping é maximalista e estilizada, frequentemente usando cores saturadas, iluminação contrastante e cortes frenéticos que remetem a videoclipes, o que, embora impressionante, muitas vezes sufoca a narrativa e prejudica a construção do suspense. O roteiro é dividido em capítulos didáticos, o que tende a fragmentar a imersão e a explicar demais o que deveria ser absorvido pela atmosfera e pelo subtexto. A busca por metáforas sobre o esporte como uma religião pagã, completa com rituais sádicos e sacrifícios, é falta de sutileza, transformando a crítica em algo óbvio. No elenco temos Marlon Wayans que, em uma reviravolta dramática de sua carreira, entrega uma performance hipnótica e assustadora equilibrando o carisma tóxico de um líder de culto com um sadismo contido e, Tyriq Withers, que cumpre o papel de protagonista vulnerável e fisicamente exigente. Esse é um filme que possui ideias fascinantes e uma mise-en-scène visualmente marcante, mas se perde na própria tentativa de ser demasiadamente chocante e simbólico, entregando um terror irregular que não encontra um equilíbrio entre sua ambição de gore e sua crítica social. Ainda assim vale o ingresso e a indicação etária é para maiores de 18 anos.
Mais uma estreia desta semana é Os Estranhos – Capítulo 2. Dirigido por Renny Harlin, o filme se torna um exemplo de como a expansão de uma fórmula simples pode diluir sua eficácia. O enredo começa imediatamente após os eventos do primeiro capítulo, com a protagonista, Maya (Madelaine Petsch), única sobrevivente do ataque inicial, acordando em um hospital em Venus, Oregon. A premissa central é a caçada direta dos três maníacos. O roteiro abandona o subgênero de “invasão de casa”, que consagrou o filme original de 2008, e se transforma em um longo e repetitivo filme de perseguição. Maya é forçada a fugir por cenários sucessivamente abandonados ou vazios, como o próprio hospital (cuja falta de funcionários e pacientes desafia a lógica) e a paisagem rural circundante, levantando a questão se toda a cidade está envolvida nos ataques. O enredo perde a essência de mistério e do terror realista em favor de um suspense esticado e, por vezes, absurdo. A tensão que existia no primeiro filme, fundamentada na ideia de violência aleatória e sem é desmantelada. A franquia comete um erro fundamental ao tentar explicar as origens de um dos assassinos através de flashbacks desajeitados sobre sua infância. Essa tentativa de atribuir uma motivação psicológica ou traumática aos “Estranhos” contradiz o medo existencial da violência sem sentido que tornava o original tão perturbador. Para preencher o tempo de tela e aumentar a ação, o filme insere sequências bizarramente deslocadas, como uma perseguição envolvendo um javali selvagem com CGI questionável, ridicularizando o que deveria ser um momento de terror. No elenco, a performance de Madelaine Petsch como a protagonista Maya é o ponto de sustentação enquanto o restante incluindo Richard Brake, é subaproveitado. O filme termina em um cliffhanger que, em vez de gerar antecipação, para muitos, apenas reforça a sensação de que o público está preso em uma jornada que se estendeu desnecessariamente, diluindo o que havia de fascinante e aterrorizante no conceito original. A indicação etária é para maiores de 16 anos.
A última estreia desta semana nos cinemas em Nova Friburgo é Dora e o Mundo Mágico das Sereias. Esse é um especial estendido ou um pacote de episódios temáticos que capitaliza sobre o sucesso e a longevidade da franquia Dora, a Aventureira. O roteiro é previsível, mas eficiente para seu público-alvo, inicia-se com um gatilho de fantasia pura, a transformação de Dora e Botas em seres marinhos após tocarem um instrumento mágico, que serve para transportar o ambiente didático e interativo familiar do telespectador para o novo e visualmente atraente universo subaquático. A narrativa emprega a clássica “fórmula Dora” de jornada e resolução de problemas, onde cada micro-aventura é um passo na missão maior de salvar a Enseada das Sereias. Essa estrutura é projetada para o engajamento pré-escolar, com a interatividade direta e a repetição de frases e conceitos visando o reforço de vocabulário e habilidades cognitivas básicas. O grande trunfo criativo dessa produção está em sua capacidade de recontextualizar a marca em um tema de sucesso, o das sereias, que historicamente atrai fortemente o público infantil. A introdução de personagens coadjuvantes como a sereia Marisol e a golfinho Rosa não apenas enriquece o novo cenário marinho, mas também funciona como um veículo para os temas centrais de cooperação, amizade e persistência. A animação, não deve ser avaliada por inovações cinematográficas, mas sim pela sua eficácia pedagógica e lúdica. É um produto que cumpre sua promessa ao oferecer entretenimento seguro, educativo e totalmente adaptado às necessidades emocionais e de desenvolvimento do público infantil. Vale o ingresso e a indicação etária é livre para todas as idades.
A dica desta semana para assistir em casa vai para O Simpatizante. Essa minissérie da Max é um thriller de espionagem e sátira política com uma direção inventiva e frenética, cortesia de Park Chan-wook e Fernando Meirelles. O roteiro, baseado no livro vencedor do Pulitzer, usa a jornada de um espião comunista no pós-Guerra do Vietnã para desmantelar a hipocrisia americana e vietnamita. Robert Downey Jr. brilha em múltiplos papéis caricatos, demonstrando sua versatilidade. A obra é visualmente caótica e intelectualmente afiada, mas exige atenção para navegar em sua complexa crítica à identidade e à ideologia.











