Estreia esta semana nos cinemas em nova Friburgo Livros Restantes. Márcia Paraíso é uma diretora conhecida por seus trabalhos que frequentemente abordam questões sociais e culturais brasileiras com sensibilidade e foco documental. Esse filme é um longa-metragem que se destaca por sua temática profundamente humana e histórica. O enredo centra-se na memória e no impacto do tempo através da perspectiva dos livros e das vidas que eles tocaram. A narrativa é construída em torno de uma investigação quase poética sobre o destino de uma vasta coleção de livros que pertenceram a indivíduos notáveis ou que testemunharam eventos cruciais da história. O filme não se prende a um drama de ficção tradicional, mas sim a uma jornada documental de redescoberta e preservação cultural. A trama gira em torno de Ana Catarina, papel de Denise Fraga, que aos 50 anos e de mudança para Portugal, embarca na missão de devolver cinco livros dedicados. Este ato de despedida força a personagem a um intenso mergulho em suas lembranças, confrontando relacionamentos passados e reavaliando sua própria identidade e perspectivas de futuro. O roteiro, muitas vezes focado em entrevistas e na exploração visual de bibliotecas e acervos, se destaca por sua capacidade de transformar o resgate de objetos em uma reflexão sobre a importância do conhecimento, da herança literária e de quem somos pelo que lemos. Há uma forte crítica social implícita na maneira como o filme trata o descuido ou o esquecimento desses “livros restantes” e as histórias não contadas que eles carregam. Márcia Paraíso demonstra uma mão segura ao entrelaçar depoimentos, imagens de arquivos e a beleza visual dos próprios livros, muitas vezes danificados e repletos de anotações pessoais. O estilo da diretora é introspectivo e contemplativo, criando um ritmo que convida o espectador à reflexão silenciosa, fugindo da estrutura rápida e comercial. A direção de arte, focada em capturar a textura e o cheiro do papel antigo. As atuações, por se tratar de um documentário ou um híbrido que utiliza elementos reais, residem na força dos depoimentos e na presença das pessoas que guardam e estudam esses livros. A autenticidade e a paixão dos bibliófilos, historiadores e guardiões da memória que participam do filme são a verdadeira “atuação” que sustenta a emoção e o interesse da obra. Esse é um filme essencialmente focado na importância da literatura como testemunho histórico e na batalha contínua para resgatar e proteger nossa memória cultural e intelectual. Vale sim o ingresso e a indicação etária é para maiores de 14 anos.
Outra estreia desta semana é Entre Nós – Uma Dose Extra de Amor. Chad Hartigan é um cineasta conhecido por explorar as dinâmicas humanas com uma delicadeza agridoce. Esta produção, cujo título original é The Threesome, não se trata de uma sequência, mas sim de uma comédia romântica que deliberadamente rompe com os formatos convencionais ao injetar drama e a complexidade da vida real em sua narrativa. O enredo foca em Connor (Jonah Hauer-King), apaixonado há anos pela sua melhor amiga, Olivia (Zoey Deutch), e como uma noite impulsiva de sexo a três com uma terceira pessoa, Jenny (Ruby Cruz), desencadeia consequências sérias e permanentes. A trama se adensa quando, após Connor e Olivia finalmente iniciarem um relacionamento, ambas as mulheres descobrem que estão grávidas. O roteiro, assinado por Ethan Ogilby transforma o que poderia ser uma premissa de comédia pastelão em uma reflexão honesta e sutil sobre responsabilidade, amadurecimento e as diferentes formas de amor e família na juventude moderna. A direção de Hartigan é notável por conseguir equilibrar o humor inerente à situação absurda com a carga emocional dos dilemas de paternidade e relacionamentos poliamorosos não planejados. O filme evita piadas forçadas, optando por um humor que nasce das reações humanas e do caos logístico gerado pela situação. Este tom evita que o filme descambe para um drama pesado, mantendo-o leve e acessível. As atuações são boas, com a química entre Zoey Deutch e Jonah Hauer-King sendo um dos pontos de sustentação, que navega entre a paixão platônica e o amor real sob pressão. Vai agradar a quem busca uma comédia romântica que se aprofunda nos temas de maternidade e relações modernas de um jeito divertido, descontraído, mas inegavelmente reflexivo sobre as consequências permanentes de uma única noite impulsiva. Vale sim o ingresso e a indicação etária é para maiores de 16 anos.
A última estreia desta semana em Nova Friburgo é Perfeitos Desconhecidos. Dirigido por Júlia Jordão, esse não é um filme original, mas sim a adaptação brasileira do aclamado sucesso italiano Perfetti Sconosciuti, que detém o recorde de filme mais remakeado da história, um contexto que impõe uma análise dupla: o valor da obra por si só e sua performance como releitura. O enredo se mantém firmemente ancorado na premissa genial do original. Um grupo de amigos, reunidos para um jantar (adaptado para um churrasco carioca), aceita o desafio de deixar os celulares sobre a mesa, expondo todas as notificações e mensagens em voz alta. O que se desenrola é um espetáculo de desmantelamento de aparências, onde cada notificação é uma bomba, revelando traições, ciúmes e segredos guardados. O roteiro é bem-sucedido em “abrasileirar” a trama, inserindo nuances culturais e tecnológicas específicas do nosso cotidiano, o que torna a história visceralmente mais próxima do público nacional. Contudo, a adaptação ocasionalmente tropeça em excessos dramáticos ou em clichês desnecessários, sem atingir a sutileza e a profundidade tensa do original. Júlia Jordão, em sua estreia em longas, adota uma abordagem que prioriza a autenticidade e a química do elenco, optando por filmar em ordem cronológica em uma única locação. A estratégia visa intensificar a progressão da tensão, mas nem sempre garante um ritmo impecável, com momentos de quebra na tensão que comprometem a imersão. As atuações são, invariavelmente, o grande trunfo, com um elenco que inclui Sheron Menezzes, Danton Mello e Fabrício Boliveira, cuja performances carregam força e a capacidade de humanizar os personagens complexos. Eles seguram a narrativa mesmo quando o roteiro hesita, garantindo a credibilidade dos embates. A introdução de um casal sáfico e a motivação do jogo vinda de uma adolescente também são pontos notáveis da adaptação. Em sua essência, Perfeitos Desconhecidos é um convite à reflexão sobre a invasão de privacidade na era digital, mostrando que o celular se tornou o “novo oráculo da verdade”, um espelho impiedoso de nossa hipocrisia. A versão brasileira, embora enfrente o peso da comparação com o original, consegue encontrar seu charme nacional, oferecendo uma experiência divertida e, acima de tudo, profundamente desconfortável para quem se questiona: e se fosse comigo Vale sim o ingresso e a indicação etária é para maiores de 14 anos.
Sugestão: A dica desta semana para assistir em casa vai para Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out. Disponível na Netflix, este é o terceiro filme da aclamada franquia Knives Out, que traz de volta o detetive particular Benoit Blanc (interpretado por Daniel Craig). A série é conhecida por reviravoltas engenhosas, humor ácido e um elenco estelar em uma trama de “quem matou?”. A franquia tem sido um sucesso de crítica e público. É uma ótima pedida se você gosta de enigmas sofisticados.









