Estreia esta semana nos cinemas em Nova Friburgo Perrengue Fashion. Essa é uma comédia nacional que se propõe a ser uma crítica bem-humorada ao universo das influencers digitais e ao choque cultural gerado pelo confronto entre o glamour superficial e a realidade mais natural e sustentável. A direção de Flavia Lacerda, juntamente com o roteiro assinado por Ingrid Guimarães e outros colaboradores, acerta ao estabelecer um ritmo ágil, essencial para o gênero comédia. O texto é construído em torno da jornada de uma influenciadora de moda que se vê forçada a sair de sua zona de conforto e encarar o interior da Amazônia. O maior mérito do roteiro está em criar situações de “perrengue” que exploram o potencial cômico do choque de culturas, contrapondo o excesso de filtros e poses das redes sociais com a aspereza e a beleza da natureza. Contudo, em alguns momentos, a crítica social parece se diluir um pouco em prol de um humor mais fácil, perdendo a oportunidade de aprofundar a discussão sobre consumo e ativismo, algo que o enredo sugere. O roteiro é previsível em sua estrutura básica com uma personagem egocêntrica que aprende uma lição de vida, mas é eficiente para o propósito de entretenimento. A narrativa se sustenta na dualidade da influenciadora e seu filho, que é o catalisador da mudança. A viagem à Amazônia funciona como um dispositivo narrativo para forçar a transformação da protagonista. O filme consegue cumprir a promessa de entregar uma jornada de autoconhecimento e reaproximação familiar, apesar de o arco de redenção ocorrer de forma um pouco rápida e idealizada no terceiro ato. O coração do filme reside nas atuações, em especial na performance de Ingrid Guimarães. Ela domina a tela com seu timing cômico já conhecido e entrega uma Paula Pratta que é, ao mesmo tempo, caricata em sua vaidade e humanamente vulnerável em sua insegurança materna. A química entre ela e Rafa Chalub, que interpreta sua assistente/câmera, é o ponto alto. Filipe Bragança e o restante do elenco de apoio, incluindo Késia Estácio ajudam a ancorar a história na realidade, mesmo em meio às situações exageradas. É uma comédia nacional que diverte e entretém, utilizando o humor como ferramenta leve para refletir sobre a desconexão da vida digital. Embora não seja revolucionário em seu gênero, ele se destaca pela força de suas atuações e pelo ritmo bem-ajustado da direção. Vale sim o ingresso e a indicação etária é para maiores de 14 anos.
Outra estreia desta semana é Tron: Ares. Chega aos cinemas o terceiro capítulo da icônica franquia de ficção científica da Disney, prometendo atualizar sua estética futurista e aprofundar as reflexões sobre a Inteligência Artificial para o público contemporâneo. A direção de Joachim Rønning, conhecido por trabalhos de grande escala como Malévola: Dona do Mal e Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar, sugere uma abordagem que prioriza o espetáculo visual e a ação, elementos cruciais para o universo Tron. Rønning equilibra a nostalgia da estética original, marcada por luzes de neon e paisagens digitais, com o uso de efeitos visuais de última geração para criar uma experiência imersiva e vibrante, mantendo o DNA visual que a saga estabeleceu desde 1982. O roteiro, escrito por Jesse Wigutow e Jack Thorne, com base em uma história de Steven Lisberger e Bonnie MacBird, inverte a premissa clássica da franquia. Ao invés de humanos sendo sugados para o mundo digital, o enredo acompanha Ares, um programa sofisticado com consciência própria, que é enviado do mundo digital para o mundo real em uma missão perigosa. Essa inversão de papéis é o cerne dramático do filme, levantando questões filosóficas sobre o que significa ser humano e as consequências do encontro da humanidade com uma Inteligência Artificial encarnada. A narrativa é eficiente ao estabelecer Ares como uma figura central ambígua, capaz de ser tanto uma ameaça quanto um catalisador para a evolução da relação entre homem e tecnologia, sem perder o ritmo de uma aventura de ação e ficção científica. No elenco temos Jared Leto no papel principal de Ares. Leto é um ator conhecido por sua intensidade, o que é um fator intrigante para interpretar um programa de IA que está descobrindo a realidade humana, entregando uma performance que equilibra a frieza digital com a complexidade de uma consciência emergente. O elenco de apoio é notável, incluindo nomes como Greta Lee, Evan Peters e Gillian Anderson, com a participação de Jeff Bridges retomando seu papel como Kevin Flynn, um elemento-chave de conexão com os filmes anteriores. A obra entrega um espetáculo visualmente deslumbrante, com cores vibrantes, fluidez impressionante e efeitos de 3D de alta qualidade, mas o roteiro é desajeitado e irregular. A tentativa de aprofundar a temática da Inteligência Artificial, com o programa Ares vindo para o mundo real, foi uma oportunidade perdida que resulta em uma estrutura datada e sem inovação real, preferindo o entretenimento passageiro à reflexão duradoura. O filme se concentra demais em ser um exercício de nostalgia e uma “isca” para sequências futuras, mas falha em criar drama, perigo ou interesse humano genuíno. Pelo visual, vale sim o ingresso e a indicação etária é para maiores de 12 anos.
A última estreia desta semana nos cinemas em Nova Friburgo é A Casa Mágica da Gabby. Adaptado de uma série infantil de sucesso, o filme chega aos cinemas com o claro objetivo de expandir a marca e oferecer uma experiência visual maior para seu público cativo. A direção de Ryan Crego demonstra competência na transição do formato televisivo para a tela grande, utilizando uma mistura de live-action e animação 3D, o que é um dos pontos mais interessantes do filme. Essa escolha estética é bem executada permitindo que a protagonista Gabby interaja de forma fluida com seus amigos felinos animados, os Gabby Cats e o cenário lúdico da Casa Mágica. A direção foca em manter a energia vibrante e as cores saturadas já características da série garantindo que a experiência no cinema seja imersiva para as crianças. O roteiro e enredo são intencionalmente simples e lineares seguindo a fórmula clássica da aventura de recuperação. A história se concentra em Gabby e sua avó Gigi viajando de carro para a metrópole de Cat Francisco e no subsequente extravio da preciosa casa de bonecas de Gabby que cai nas mãos da excêntrica e vilanesca Vera. A trama é um veículo para a união dos personagens e a resolução de pequenos desafios. O enredo não busca complexidade narrativa, mas sim reforçar temas infantis essenciais, como a importância da amizade, do trabalho em equipe e da criatividade. O ritmo é ditado pela urgência da missão de resgate mantendo a atenção dos pequenos espectadores apesar da previsibilidade que o público adulto pode notar. O texto é leve e cheio de jogos de palavras, adequados ao universo da obra. No elenco Laila Lockhart Kraner como Gabby é o ponto de ancoragem do segmento live-action, ela entrega a energia e o entusiasmo esperados da personagem infantil agindo como o elo emocional entre a realidade e o mundo da Casa Mágica. O filme é um produto bem embalado que cumpre o que promete para seu público-alvo prioritário, oferecendo uma aventura charmosa e colorida com uma mensagem positiva sem se arriscar muito em termos de inovação cinematográfica. Vale o ingresso e a indicação etária é livre para todas as idades.
A dica desta semana para assistir em casa vai para O Segredo dos Seus Olhos. Disponível na Prime Video, esse filme é um thriller dramático brilhantemente dirigido por Juan José Campanella, que intercala o passado e o presente em uma busca obsessiva por justiça. Seu roteiro engenhoso e emocionalmente potente, vencedor do Oscar, transforma um caso de assassinato não resolvido em uma profunda meditação sobre o luto, a memória e o amor não concretizados. A atuação visceral de Ricardo Darín sustenta a narrativa com uma complexidade admirável, culminando em um clímax que revela um segredo surpreendente e devastador. A experiência é enriquecida por um famoso plano-sequência, uma proeza técnica que ressalta a maestria da direção.









