Filmes da semana de 16/10 a 22/10

18/10/2025 10:52:02
Compartilhar

Estreia esta semana nos cinemas em Nova Friburgo O Último Rodeio. É um drama familiar e esportivo que se insere na tradição de filmes sobre sacrifício pessoal e redenção, contando a história de Joe Wainwright, um ex-montador de touros que precisa voltar à arena para salvar seu neto. Dirigido por Jon Avnet e com roteiro coescrito pelo próprio protagonista, a obra é marcada por um intenso melodrama. O roteiro usa a premissa de um veterano lesionado que precisa de uma última vitória para salvar um familiar doente, o que é um clichê já explorado exaustivamente pelo cinema. O filme abraça abertamente o melodrama, resultando em passagens que soam piegas e carregadas no tom, utilizando o drama familiar para emocionar o público de forma forçada. Em termos técnicos, a direção de Avnet é eficiente em criar o ambiente do rodeio e a tensão física do desafio, mas a previsibilidade do roteiro, coescrito por McDonough, Jon Avnet e Derek Presley, enfraquece o impacto das cenas de superação. O ponto de maior força do filme reside na atuação e na coesão do elenco. Neal McDonough entrega o patriarca teimoso e marcado pela vida, conferindo a necessária dignidade e desespero ao dilema do personagem. O roteiro, que aborda o luto e as cicatrizes físicas e emocionais do rodeio, encontra ressonância na química de McDonough com Sarah Jones, que interpreta sua filha e com Mykelti Williamson, que assume o papel do amigo de longa data e mentor. Essa tríade constrói uma dinâmica familiar crível, onde o trauma geracional é o verdadeiro centro dramático, e não apenas o esporte. Esse é uma obra que acerta ao colocar o coração e o sacrifício familiar no centro, sendo valorizado pela sensibilidade das atuações. No entanto, é um filme que renuncia à originalidade em nome de uma fórmula testada, abraçando clichês de gênero e um tom excessivamente melodramático. Fica aqui registrado meu repúdio ao rodeio por motivos morais e pelo sofrimento infligido aos animais para fins de entretenimento. A indicação etária é para maiores de 14 anos.

Outra estreia desta semana é O Bom Bandido. Essa é uma comédia dramática inspirada na inusitada história real de Jeffrey Manchester, um fugitivo que se escondeu em uma loja de brinquedos nos anos 90, e marca o retorno do diretor Derek Cianfrance a um longa-metragem. O filme se propõe a ser um retrato agridoce da busca por redenção e afeto em meio ao crime. O roteiro, assinado por Derek Cianfrance e Kirt Gunn, se baseia em um criminoso que se escondeu em uma loja de brinquedos, e é bem-sucedido ao humanizar essa figura. No entanto, a narrativa sofre de uma superficialidade crônica, preferindo resumir eventos centrais em vez de transformá-los em cenas dramáticas ou cômicas com peso real. O resultado é um filme com um ritmo arrastado e uma duração excessiva. A maior força dessa produção reside no elenco estelar e na química entre os protagonistas. Channing Tatum, no papel de Jeffrey Manchester, carrega carisma e vulnerabilidade, fugindo da figura unidimensional do criminoso e, Kirsten Dunst, a funcionária do mercado com quem Jeffrey se envolve, oferece uma performance igualmente forte e fundamentada, conferindo credibilidade ao romance improvável e desafortunado que surge em meio ao caos. O filme se beneficia também de um elenco de apoio talentoso, incluindo nomes como Peter Dinklage, Lakeith Stanfield e Uzo Aduba, que, embora com participações breves, enriquecem a narrativa. É um clichê agradável que se sustenta principalmente na empatia criada por Channing Tatum e na química com Kirsten Dunst. No entanto, sua incapacidade de transformar uma história real bizarra em um roteiro com propósito dramático consistente faz com que o filme seja uma produção talentosa e bem-intencionada, mas, em última análise, esquecível. Ainda assim, vale sim o ingresso e a indicação etária é para maiores de 14 anos.

Mais uma estreia desta semana nos cinemas em Nova Friburgo é O Telefone Preto 2. Dirigido novamente por Scott Derrickson, esse é um caso interessante de como a ambição de expandir um universo pode ser uma faca de dois gumes, oscilando entre o sucesso na profundidade temática e a perda da tensão minimalista do original. A obra se distancia da simplicidade claustrofóbica do primeiro longa para mergulhar no terror sobrenatural e psicológico, com resultados mistos. No aspecto técnico, o filme é um deleite visual para os entusiastas do terror retrô. Derrickson abraça a estética do horror dos anos 1980, utilizando texturas de película 8mm em sequências de pesadelo e visões. Essa escolha confere à tela um ar sujo e estilizado, com cores saturadas e granuladas. Embora a performance de Madeleine McGraw seja aclamada por sustentar o peso emocional da narrativa, o roteiro explica demasiadamente o mistério. A força do primeiro filme residia no seu minimalismo e na tensão sufocante da câmara de sequestro. Já esta sequência, ao tentar “ampliar o universo” e detalhar o lado sobrenatural do sequestrador, perde essa simplicidade aterradora. A ambição de transformar a história em um confronto mais aberto entre os vivos e as almas das vítimas, além de revisitar o vilão, faz com que o filme se aproxime de clichês de outras franquias de terror. Ao focar tanto na expansão e na homenagem estética, o filme sacrifica o suspense psicológico e a tensão que o tornaram único. O vilão, interpretado por Ethan Hawke, tem sua presença diluída, tornando-se mais uma força espectral e menos o monstro palpável e assustador do original. Essa é uma sequência tecnicamente competente e visualmente ousada que lida bem com as consequências dos traumas de seus protagonistas. No entanto, sua necessidade de expandir e detalhar a mitologia resultou em um filme que é mais ambicioso do que assustador, perdendo o impacto direto e a eficácia simples que definiram o sucesso do seu antecessor. Ainda assim vale o ingresso e a indicação etária é para maiores de 18 anos.

A última estreia desta semana nos cinemas em Nova Friburgo é Eu e Meu Avô Nihonjin. Essa é uma animação brasileira que se estabelece como uma obra de notável sensibilidade e importância cultural, utilizando a linguagem acessível do desenho animado para desbravar temas profundos de identidade, memória e trauma geracional. Longe das narrativas mainstream, o filme, dirigido por Célia Catunda e baseado no livro de Oscar Nakasato, demonstra uma maturidade rara ao focar na história da imigração japonesa no Brasil. O roteiro consegue ser didático sem ser simplista. A espinha dorsal da história reside no encontro de duas pontas: Noboru, o neto curioso, representante da terceira geração e Hideo, o avô reservado, que carrega o peso de um passado silenciado. O pretexto do trabalho escolar serve como um motor narrativo inteligente, forçando o avô a romper décadas de introspecção e a compartilhar memórias dolorosas, incluindo a descoberta de um tio desconhecido. A direção de arte, inspirada nas instalações do artista nipo-brasileiro Oscar Oiwa, é seu grande diferencial. A obra adota uma estética visual híbrida e rica, onde os cenários não são apenas fundos, mas verdadeiras pinturas em 2D que conferem um charme artesanal e uma textura poética à tela. A obra se destaca pela sua capacidade de emocionar e educar, provando que a animação brasileira tem o potencial de tratar de temas históricos e densos com grande lirismo e sofisticação visual. É um tributo à força dos laços familiares e à beleza de uma identidade construída na travessia de oceanos e gerações. Vale muito o ingresso e a indicação etária é livre para todas as idades.

A dica desta semana para assistir em casa vai para Counterpart. Uma joia da ficção científica de espionagem que a maioria das pessoas perdeu. Berlim é o centro de uma brecha dimensional que criou um mundo paralelo idêntico ao nosso, mas com pequenas e crescentes diferenças. A série acompanha um funcionário de baixo escalão, interpretado brilhantemente por J.K. Simmons em papel duplo, que descobre a existência de seu “eu alternativo” e o jogo de espionagem entre os dois mundos. É inteligente, bem escrita e cheia de reviravoltas.  Disponível na Prime Video.

Compartilhar