Estreia esta semana nos cinemas em Nova Friburgo Besouro Azul. Mais um filme de origem de um super-herói chega aos cinemas em um período pouco favorável a esse tipo de abordagem com diversos fracassos da própria DC Comics, mas desta vez a aposta é em um protagonista latino, o que ainda não havia sido feito. A escolha do diretor porto-riquenho Angel Manuel Soto, não foi por acaso e ele soube aproveitar o universo vivido pelos imigrantes, fazendo disso, o ponto forte do filme. O enredo é o clichê tradicional dos filmes de origem, sempre com o herói improvável e um vilão clássico. O problema é novamente o roteiro que até surpreende no início, mas depois passeia por caminhos fáceis e entrega piadas prontas. Esse é um filme que inicialmente não iria para os cinemas, entrado direto para catálogos de streaming. Visualmente os efeitos digitais e a direção de arte fizeram um bom resultado, apesar da falta de “vida” na cidade que muitas vezes parece fantasma. No elenco temos Xolo Maridueña que entrega um bom trabalho, mas a brasileira Bruna Marquezine é quem se destaca, avaliando as limitações da personagem. Marquezine pode estar iniciando uma promissora carreira internacional. A surpresa ficou por conta da Susan Sarandon que interpreta uma vilã com cara de paisagem, transparecendo um incômodo com a personagem. Besouro Azul acerta quando foca no debate da comunidade latina e nas referências com o universo da DC, mas não vai além disso. Claro que é um super-herói menos conhecido, mas vai agradar aos fãs desse tipo de produção e pode até surpreender, afinal, a aposta era baixa. A indicação etária é para maiores de 12 anos.
Outra estreia desta semana nos cinemas em Nova Friburgo é Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança. É sempre bom assistir a produções nacionais com essa força, tanto em relação ao roteiro, como também pela direção criativa e atuações marcantes. Esse é um drama com muita ação iniciando uma trilogia sobre a violência urbana no Brasil. Marcos Bernstein é um cineasta experiente que se espelha em boas referências, entregando uma direção bem acima da média trabalhando com sombras e cores “sujas”, levando o público a viver aquela realidade fria, quase sem vida. No elenco Claudia Abreu mais uma vez esbanja talento em uma interpretação convincente e visceral. Ainda temos Júlia Lemmertz que faz um contraponto com a Claudia e Alexandre Borges, entre muitos outros. O enredo é sobre uma mulher advogada que após passar por um trauma em que sua filha foi baleada em um assalto e fica em coma, decide fazer justiça pelas próprias mãos e vai viver um dilema, afinal, até onde somos capazes de chegar quando a vingança passa a racionalizar nossas ações? É uma produção ambiciosa para o cinema nacional e nesse primeiro ato, consegue entregar o que se propõe. Vamos aguardar os próximos, mas temos nesse primeiro um debate bem definido sobre nós mesmos, principalmente a condição da psique humana e até onde ela pode nos levar. Vale muito o ingresso e a indicação etária é para maiores de 16 anos.
Estreia também esta semana Fale Comigo. Temos aqui mais um caso de youtubers que se destacam em uma produção para o cinema. Assim como Jordan Peele, os irmãos australianos Danny Philippou e Michael Philippou realizam um feito ousado, uma vez que se trata de uma produção independente e sem interferência de estúdios ou produtores. Depois de ter sido elogiado no Festival Sundance de Cinema, o filme ganhou visibilidade e distribuição. Apesar de não ser original a ideia, o que chamou a atenção foi exatamente a narrativa fugindo de jump scare e outros artifícios usados no terror, assim como as soluções encontradas, uma vez que o orçamento era limitado. Com muitas referências, o enredo gira em torno de um grupo de jovens que acham uma mão embalsamada e descobrem que utilizando ela, podem invocar espíritos. Tudo começa como uma brincadeira, mas aos poucos vão perdendo o controle. Destaque para a direção de elenco que extrai muito das atuações, principalmente da ótima Sophie Wilde. Existem problemas pontuais no roteiro, mas nada que atrapalhe a experiência. O resultado é muito bom, forte e violento. Um sopro de criatividade e realização em um gênero tão engessado. Belo início de carreira para os irmãos Philippou que apostaram nas suas ideias e capacidade de realização. Vale muito o ingresso e a indicação etária é para maiores de 14 anos.
A última estreia em Nova Friburgo desta semana é Vai Ter Troco. Comédia nacional que trabalha o choque de classes com muita gente boa e tratando de um assunto batido, mas necessário. No enredo temos uma família rica sem qualquer merecimento, que vive de dinheiro recebido de forma ilícita e seus “serviçais”, pessoas que trabalham para os caprichos dos patrões. Tudo vai degringolar quando um escândalo vem à tona e o esquema fraudulento dos corruptos passa a ser investigado e o dinheiro fica escasso. Nesse contexto os conflitos se exaltam e esse choque de classes se misturam e evidenciam. Isso não é uma novidade, já vimos diversas vezes enredos como esse, mas estamos no Brasil, um país de impunidade onde o crime parece compensar com uma disparidade enorme econômica na população e por isso, a importância do tema. Claro que o que temos nesse filme é uma paródia, que sempre foi uma forma de jogar no ventilador as mazelas da sociedade. No elenco temos Evelyn Castro, Marcos Veras, Nany People, Miá Mello e uma ótima participação de Falcão, entre outros. É muita gente boa juntos e com a direção sempre competente de Mauricio Eça. Boas risadas com uma reflexão importante que vai agradar a todos. Vale muito o ingresso e a indicação etária é para maiores de 14 anos.
Sugestão: A dica para assistir em casa esta semana vai para Sempre em Frente. Disponível no catálogo da HBO Max esse é um filme sobre descobertas e vínculos que nos moldam e nos ajudam a evoluir. Em preto e branco o filme tem nomes como Joaquin Phoenix, Woody Norman, Gaby Hoffmann e Molly Webster. O enredo é sobre relações, tendo como base a sensibilidade e o resgate de habilidades que os adultos vão perdendo no percurso da vida.
