Estreia esta semana nos cinemas em Nova Friburgo Enterre Seus Mortos. Dirigido por Marco Dutra e adaptado da obra de Ana Paula Maia, o filme se impõe como uma produção de gênero audaciosa e de visual impactante no cinema nacional, embora sua ambição resulte em uma experiência narrativa irregular. Centralizada na jornada de Edgar Wilson (Selton Mello), um removedor de animais mortos na fictícia e apocalíptica Abalurdes, a obra estabelece desde o início uma atmosfera opressiva e distópica, utilizando chuvas de carcaças e uma misteriosa epidemia (“A Síndrome”) como pano de fundo para discutir o colapso moral e social. A direção de Marco Dutra é notavelmente rigorosa e investe no maximalismo visual e temático, com a fotografia irrepreensível de Rui Poças, que abusa dos tons de vermelho e do contraste de luz, e uma direção de arte sombria que confere autenticidade ao cenário de desolação. Tecnologicamente, o filme impressiona, utilizando efeitos visuais e práticos de alto nível para construir um mundo que é quase palpável em sua sujeira e decomposição. O roteiro é o ponto problemático com uma estrutura caótica da narrativa, que se aprofunda em subtramas e flashbacks, diluindo o terror e suspense inicial, tornando os 128 minutos um tanto arrastados e deixando pontas soltas que frustram a expectativa de coesão. A crítica social ao fanatismo religioso e ao egoísmo humano é forte e relevante, mas por vezes peca pela superficialidade no desenvolvimento das motivações dos personagens, transformando alguns coadjuvantes em meros arquétipos. Por outro lado, o elenco é o ponto forte. Selton Mello entrega uma performance hipnótica e contida como o protagonista taciturno, enquanto Marjorie Estiano e Danilo Grangheia ancoram o drama com uma química crua e humanizada, sustentando o filme mesmo quando a trama ameaça desmoronar sob o peso de suas próprias alegorias. Em essência, “Enterre Seus Mortos” é um feel bad movie que não faz concessões, sendo um filme estranho e instigante que provoca a reflexão e a discussão, mas que termina deixando um sentimento de potencial narrativo desperdiçado em favor de um estilo visual inegavelmente corajoso e marcante. Vale o ingresso e a indicação etária é para maiores de 16 anos.
Outra estreia desta semana é Terror em Shelby Oaks. Esse é um projeto ambicioso que busca resgatar e reinterpretar elementos do cinema de terror found footage e sobrenatural, muito influenciado por clássicos como A Bruxa de Blair. O enredo acompanha Mia (Camille Sullivan) em sua busca desesperada pela irmã desaparecida, Riley (Sarah Durn), uma youtuber de investigações paranormais. A investigação de Mia ganha novo fôlego quando ela recebe uma fita misteriosa, mergulhando em uma espiral de horror que mescla o formato de documentário true crime com cenas de found footage nos minutos iniciais, uma abordagem experimental que, a princípio, favorece a imersão e a sensação de veracidade dos fatos apresentados. Dirigido por Chris Stuckmann, popular youtuber de crítica para o cinema que faz sua estreia na direção, embora demonstre potencial e uma dedicação pessoal visível (o projeto foi financiado via Kickstarter, quebrando recordes de arrecadação), revela uma certa imaturidade e uma dependência excessiva de suas referências, citando desde A Bruxa de Blair até o trabalho de James Wan. A produção técnica, notadamente a cargo dos Newton Brothers na trilha sonora, é competente, e a ambientação em locais reais abandonados (como o Chippewa Lake Park) ajuda a construir uma atmosfera sufocante e realista. No entanto, a principal fragilidade reside na execução do roteiro: à medida que a narrativa avança e as revelações sobre o desaparecimento de Riley chegam, a trama se torna decepcionante, recorrendo a um turbilhão de referências sobrenaturais (demônios, hellhounds, paranoia coletiva) que, ao invés de aumentar o impacto, acabam se minimizando mutuamente. O filme luta para definir seu próprio caminho, hesitando entre o terror psicológico e o horror non-sense, o que culmina em um final irregular e que pode soar como um tapete puxado insatisfatório. Apesar da presença de nomes como Keith David e Michael Beach no elenco, a performance de Camille Sullivan como Mia é quem sustenta a carga dramática e a busca pela verdade. Resumindo, é um filme de estreia imperfeito, mas honesto e cheio de promessas, que se fortalece na sua intenção de ser um terror experimental próximo da realidade pessoal do diretor e do público jovem, mas que não consegue sustentar a coesão do mistério até o fim, diluindo seu potencial de assustar em um excesso de inspirações. Vale o ingresso e a indicação etária é para maiores de 18 anos.
Mais um filme que chega aos cinemas nesta semana em Nova Friburgo é Guerreiras do K-Pop. Dirigida por Maggie Kang e Chris Appelhans, essa é uma animação que se estabelece primeiramente como um deslumbre visual e uma celebração da cultura pop sul-coreana, misturando o frenesi do K-Pop com elementos de fantasia e caça a demônios. O enredo acompanha o girl group HUNTR/X, que, sob o glamour dos holofotes e de shows em estádios lotados, esconde uma identidade secreta como guerreiras ancestrais encarregadas de manter a harmonia no mundo caçando demônios. O conflito principal se intensifica com a revelação de que a vocalista Rumi é filha de um demônio, e com a ascensão dos vilões Saja Boys, um grupo rival formado por demônios que buscam corromper a humanidade. A direção acerta ao adotar uma estética 3D neon e vibrante, que bebe da fonte de animações modernas como Homem-Aranha no Aranhaverso, mas adiciona um toque distintivo, utilizando expressões faciais exageradas e estilizadas que conferem leveza e humor à narrativa. Essa ousadia estética é o principal trunfo da produção. As músicas são viciantes, contagiosas e se integram de forma essencial à narrativa, servindo como clipes isolados e como catalisadores para as sequências de ação. Contudo, apesar do visual arrebatador, o filme peca pelo roteiro clichê e formulaico. A história segue a estrutura básica de grupo de heróis vs. vilões, e o desenvolvimento de personagens secundários como Mira e Zoey é superficial, sendo que elas servem mais para alívio cômico do que para aprofundamento. A trama aborda temas relevantes como a pressão da indústria do K-Pop, a busca por identidade e o enfrentamento de demônios internos, mas os explora de maneira simples e juvenil. A animação é divertida e se destaca pela sua energia contagiante e pelo respeito com que trata a cultura que representa, provando que é possível unir entretenimento pop e autenticidade cultural com sucesso, mesmo que sacrifique a originalidade em favor de uma fórmula segura e de um visual inesquecível. Vale o ingresso e a indicação etária é para maiores de 10 anos.
Outra estreia desta semana nos cinemas em Nova Friburgo é Bom Menino. Ben Leonberg em sua estreia em longas-metragens, apresenta uma ideia brilhante e inovadora que por si só o destaca no saturado gênero de terror contando uma história de casa assombrada inteiramente pela perspectiva limitada de um cachorro. O enredo acompanha Indy (o carismático cão do próprio diretor, Indy), que se muda com seu dono, Todd (Shane Jensen), para uma casa de família herdada no campo, onde Todd, que sofre de uma doença pulmonar crônica, busca isolamento. Contudo, Indy começa a perceber e reagir a forças sombrias invisíveis aos humanos, que parecem ameaçar a vida de seu dono. A direção de Leonberg é um fascinante exercício técnico e de montagem. O filme mantém a câmera rente ao chão e frequentemente os rostos dos personagens humanos estão fora de quadro, forçando o espectador a compartilhar a perspectiva e a vulnerabilidade do protagonista canino. Essa escolha cria um tipo de terror de empatia e tensão atmosférica, onde o medo não se manifesta em jumpscares forçados, mas na angústia silenciosa de um animal leal que não consegue se comunicar sobre o perigo que se aproxima. O verdadeiro protagonista e destaque absoluto é Indy, cuja atuação é convincente e expressiva, sustentando a narrativa emocional com olhares e hesitações que transmitem inocência e lealdade inabalável. O filme funciona em sua curta duração, cerca de 73 minutos, construindo uma atmosfera fria e isolada através de uma fotografia baseada em sombras densas e um design de som minimalista. O roteiro, apesar de original na premissa, é bastante simples e pode se tornar repetitivo no segundo ato, demorando a avançar o mistério. A ambiguidade sobre a natureza da assombração, se é um demônio clássico ou uma metáfora visual da doença e do luto de Todd, pode dividir opiniões. Alguns sentem falta de uma explicação mais robusta, enquanto outros veem nesse mistério a força do terror psicológico da obra. Em essência, essa é uma surpresa inteligente e um filme pequeno em escala, mas imenso em sentimento, que prova que ideias simples e bem executadas podem renovar o gênero, mesmo com limitações no desenvolvimento narrativo. Vale sim o ingresso e a indicação etária é para maiores de 12 anos.
A última estreia desta semana nos cinemas em Nova Friburgo é O Natal da Patrulha Canina. Essa é uma produção que capitaliza o sucesso global da franquia infantil, apresentando uma aventura temática com o espírito natalino. O enredo central se desenrola quando o Papai Noel adoece, impedindo-o de entregar os presentes. Diante da emergência, os filhotes da Patrulha Canina, liderados por Ryder e com destaque para Rubble, o bulldog da construção, assumem a missão de salvar o Natal. O obstáculo principal é, previsivelmente, o Prefeito Humdinger, que tenta de forma furtiva roubar os presentes, adicionando o elemento de vilania cômica já familiar aos fãs. A direção e o roteiro são direcionados para o público infantil, com foco na simplicidade da narrativa e na rápida sucessão de eventos de resgate. A estrutura é didática, reforçando temas recorrentes da série, como trabalho em equipe, coragem, superação de problemas e a importância de ajudar o próximo. A execução técnica, apesar de não buscar o alto nível de detalhes visuais de animações hollywoodianas de grande porte, é funcional e vibrante, utilizando cores fortes e designs de personagens reconhecíveis, o que garante a atração e a retenção da atenção das crianças. Em resumo, a animação é um produto eficiente e seguro que cumpre seu propósito de entregar um entretenimento leve e divertido com temática natalina para o público pré-escolar, reforçando a mensagem de que, com a união dos filhotes e seu lema de “superar os problemas”, toda missão pode ser concluída com sucesso. Vale o ingresso e a indicação etária é livre para todas as idades.
A dica desta semana para assistir em casa vai para Steve. Disponível na Netflix, esse é um drama psicológico intenso, sustentado pela atuação visceral de Cillian Murphy como um diretor de reformatório à beira do colapso nos anos 90. O filme narra um único dia de caos e exaustão, onde o protagonista tenta desesperadamente salvar seus alunos e sua escola, enquanto sua própria sanidade se deteriora. Embora a direção adote um estilo caótico e por vezes sobrecarregado, a performance de Murphy é silenciosamente poderosa, transmitindo o peso de um sistema falido. É um retrato brutal e humano sobre a crise da saúde mental e o custo de tentar cuidar dos outros quando se está “muito, muito cansado”.











