Estreia esta semana nos cinemas em Nova Friburgo Amores Materialistas. Celine Song retorna com sua segunda produção, após o sucesso poético de Past Lives (2023). Desta vez, ela explora o universo das agências de encontros de elite em Nova York, entregando um roteiro afiado, repleto de diálogos sociológicos e reflexões sobre aspirações e convenções modernas. O enredo gira em torno de uma especialista em relacionamentos que gerencia encontros entre clientes de elite com base em padrões exigentes de status social como fortuna, aparência e prestígio. Quando um bilionário sofisticado cruza seu caminho e seu ex ressurge em sua vida, ela se vê dividida entre a estabilidade do luxo e a autenticidade de um amor “imperfeito”. O roteiro trabalha com uma abordagem inteligente e perspicaz destacando sua relevância para os dilemas atuais sobre status e relacionamentos. A tentativa de equilibrar comédia leve e introspecção existencial muitas vezes não funciona, resultando em diálogos que soam artificiais ou pretensiosos. Outro problema é a falta de química entre os personagens principais, o que pode ser proposital, além de um desenvolvimento previsível do triangulo amoroso. O filme, porém, é maduro, destacando sua narrativa realista e sem moralismo excessivo. Filmado em 35 mm por Shabier Kirchner, o filme exibe estética elegante e fotografia refinada que contrastam o glamour de altos salões com os cenários simples da vida cotidiana. No elenco principal Dakota Johnson interpreta Lucy, uma mulher elegante, reservada e pragmática, equilibrando o charme sofisticado com uma camada de melancolia e dúvida existencial. Chris Evans vive o ex-namorado de Lucy, incorporando vulnerabilidade, arrependimento e um afeto persistente. Esse é possivelmente o melhor papel da sua carreira. Por fim, temos Pedro Pascal que interpreta um financista rico e encantador, o típico “par perfeito” nos parâmetros de Lucy. Sem grandes conflitos internos ou crescimento seu personagem foi subaproveitado. Resumindo, o filme propõe uma reflexão crítica sobre o amor enquanto transação mostrando a modernidade como palco de escolhas guiadas por status, ansiedade e desempenho emocional. Há mérito na escrita sóbria e madura de Celine Song, bem como na ambientação visual cuidadosa. Ainda assim, a execução esbarra em personagens vazios de emoção e uma narrativa que prefere a observação fria ao envolvimento apaixonado. É uma obra que provoca pensamento, mas dificilmente faz o coração bater. Vale o ingresso e a indicação etária é para maiores de 14 anos.
A outra estreia desta semana nos cinemas em Nova Friburgo é O Ritual. Dirigido por David Midell o filme se inspira nos registros da exorcizada Emma Schmidt, cujo caso em 1928 ficou célebre pela Igreja católica. Midell adota um estilo quase documental, privilegiando o drama interior dos personagens em vez de sustos baratos ou efeitos visuais exagerados. Embora a intenção de oferecer contexto histórico seja louvável, o roteiro pouco acrescenta ao gênero, repetindo convenções tradicionais da narrativa de possessão sem oferecer reviravoltas ou desconstruções. A trama acompanha uma jovem mulher que começa a manifestar comportamentos violentos, crises intensas e eventos que desafiam qualquer explicação médica. Seus pais, desesperados, recorrem à ajuda da Igreja, acreditando que forças malignas estejam atuando sobre ela. Dois padres são enviados para realizar o exorcismo: um veterano experiente e convicto em sua fé, e um mais jovem, atormentado por dúvidas internas e traumas pessoais. Isolados em uma casa remota, eles enfrentam dias de tensão crescente enquanto o ritual se intensifica, colocando não apenas a vida da jovem em risco, mas também a sanidade e a fé dos envolvidos. No elenco temos Al Pacino fazendo o padre Theophilus Riesinger, papel que transmite autoridade, mas com um sotaque alemão indecifrável, Dan Stevens, como Steiger, representa o sacerdote em crise de fé e Abigail Cowen assume o papel central de Emma com intensidade física e vocais ameaçadores, mas sofre com a falta de material narrativo para explorar sua jornada interna de sofrimento. O filme tem muitos problemas como as cenas de levitação, vozes estranhas, vômitos grotescos e elementos sobrenaturais que soam clichês e mal explorados, tornando o roteiro sonolento. Seu ritmo frio, enredo previsível e falta de frescor resultam em uma experiência que pode agradar parcialmente fãs da tradição religiosa ou da história por trás do mito, mas decepciona quem busca horror moderno com tensão real. A atuação de Pacino eventualmente chama a atenção, embora por motivos inusitados e o filme impõe respeito pela referência histórica, mas sem convencer como thriller ou drama psicológico. Ainda assim vale o ingresso e a indicação etária é para maiores de 14 anos.
Sugestão: A dica desta semana para assistir em casa vai para Golpe de Sorte em Paris. Disponível na Prime Video o filme mostra uma mulher que leva uma vida aparentemente perfeita com seu marido rico e bem-sucedido. Tudo muda quando ela reencontra um antigo colega de escola por quem nutriu sentimentos no passado. Esse reencontro desperta nela dúvidas, paixões e desejos que ameaçam abalar sua rotina confortável. Dirigido por Woody Allen, o filme carrega bons diálogos e reflexões sobre a vida e o amor.








