O “MÃO DE LUVA”

11/10/2024 20:40:54
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Segundo o historiador friburguense Raphael Jaccoub, em Lisboa, quando D. José I era Rei de Portugal e seu Primeiro Ministro, Marquês de Pombal, a filha do Rei, a princesa Maria se enamorou do Marquês de Santo Tirso, Manoel Henriques. Por questões de interesses da Coroa, tal relacionamento não era do agrado do Rei e do seu Ministro, que planejavam casá-la com o tio.

Ambos, então, aproveitaram um acontecimento para separar o romântico casal. O ocorrido foi um atentado que o Rei D. José sofreu em 3 de setembro de 1758, tendo ficado ferido no braço.

Tal ocorrência foi logo atribuída a nobres descontentes, e a culpa recaindo sobre os Távora e seus amigos, e dentre estes últimos, o Marquês de Santo Tirso. Ele foi preso, tendo sua fortuna confiscada, seu título cassado e condenado ao degredo no Brasil. À noite, na véspera de sua partida, a Princesa Maria foi à cela, e através das grades, se despediu de seu grande amor, oferecendo-lhe um cordão de ouro com um crucifixo e beijando uma de suas mãos. Manoel Henriques diz à Princesa Maria que aquela mão beijada por ela, jamais seria tocada por outra pessoa e, de imediato, veste sua luva. Tal hábito que o acompanhou até a morte, lhe valeu para sempre, a alcunha de “Mão de Luva”.

Uma vez no Brasil, o ex-Marquês de Santo Tirso cumpria a sua pena de degredo na cidade do Rio de Janeiro, quando, por volta de 1760, conheceu um garimpeiro de nome Maurício, que fugira de Vila Rica, por ter sonegado o “quinto do ouro”. Com o passar do tempo, tornaram-se amigos e resolveram partir para as ‘minas gerais”, com a finalidade de explorar o ouro. Durante anos de trabalhos, conseguiram atrair outros aventureiros, inclusive escravos fugidos, até que em 1766 foram descobertos por tropas do Governador. Travou-se uma tremenda trabucada e entre alguns mortos, o amigo Maurício. Mão de Luva conseguiu escapar, com seu grupo, atravessando o Rio Paraíba do Sul, alcançaram o Carmo e atingiram um vale estreito, onde havia um riacho rico, em ouro de aluvião. Ali, então, se fixaram. Eram homens, mulheres, índios, brancos, negros fugidos. Para o pequeno povoado, Mão de Luva adotou o símbolo do “Galo de Barcelos”, cidade portuguesa próxima ao seu local de nascimento. Construiu uma capela de taipa dedicada a São Pedro, aos cuidados do Padre Gabriel. Durante dezoito anos, tudo transcorreu, normalmente, o vilarejo cresceu, até que chegou ao conhecimento do Governador de Minas a existência de um bando de “contrabandistas” instalado nos “Sertões do Macacu”.

“Uma expedição foi organizada para dar combate ao bando e prender seus componentes, mas foi contida, combatida e derrotada” (segundo o historiador Raphael Jaccoud). Nova e mais poderosa força foi organizada, ocupando o povoado, prendendo Mão de Luva e seus principais colaboradores. Foram levados para Vila Rica, onde foram julgados, sendo que ele foi condenado a novo degredo, desta vez, para a África. Não completaria a viagem, estando tuberculoso, morreria a bordo do navio, assistido por seu amigo o Padre Gabriel que o acompanhou, voluntariamente, e o assistiu em seus últimos momentos, no Natal de 1786. Fez, então, um pedido ao Padre Gabriel, que fizesse chegar às mãos da Rainha Maria I, o cordão com o crucifixo que ela lhe dera na despedida, quando ainda era princesa. Uma prova de que ele o usara durante toda a sua vida, como ela lhe havia pedido. Mão de Luva teve por sepultura a imensidão do oceano.

Quanto à palavra CANTAGALO, nome oficial de um dos municípios do Estado do Rio de Janeiro, diz o povo, que a origem é a seguinte: para prender Mão de Luva, na sua aldeia, foram várias expedições malogradas, pois não conseguiam localizá-lo. Um dia, uma expedição malograda já se preparava para retornar, quando foi ouvido o “canto de um galo”. Seus componentes deduziram: se uma ave doméstica está cantando, é porque existem moradores no local. Para lá se dirigiram e encontraram Mão de Luva.

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