Segundo o saudoso pesquisador Othon Gonçalves Pereira, em seu artigo “O Palacete João Albino”, o prédio que existiu até metade dos anos 60, do século passado, na Avenida Comte Bittencourt, esquina da Rua Duque de Caxias, foi construído pelo advogado Dr. João Albino Dias da Silva.
Fazendeiro em Cantagalo, veio morar em Nova Friburgo, por volta de 1893/ 94, confiando a edificação de seu imóvel ao construtor português Francisco Alves da Rocha, que o concluiu em 1896. Nele residiu com sua família, por muitos anos, exercendo a advocacia em nossa cidade.
Ainda citando o Sr. Othon, com seu falecimento, o filho Rodolfo, farmacêutico diplomado, vendeu a propriedade, com todo o seu mobiliário, ao abastado fazendeiro Francisco Thomaz (pai de Othelina Thomaz, figura de realce da sociedade friburguense, da época), que então passou a alugá-la para inquilinos que nela instalaram hotéis.
O primeiro foi o “Hotel Garibaldi”, por volta de 1925, do casal Pedro e Philomena Mastrangelo, ajudado pela filha Marieta.
Em 1° de janeiro de 1930, com um suntuoso baile, foi inaugurado por uma família portuguesa, vinda do Rio, o “Hotel Fluminense” que, alguns anos depois, seria transferido para o prédio do atual Willisau, em nossa principal praça, com o nome de “Hotel Glória”.
Em 1935, segundo o saudoso professor e membro da Academia Friburguense de Letras, Antônio Carlos Vitiello, a Sra. Othelina Thomaz, herdeira de Francisco Thomaz, vende o palacete para ser a sede da Sociedade Cultural Dante Alighieri, cuja finalidade era difundir a língua, a literatura e os costumes italianos. Para a aquisição do imóvel, a dificuldade era o preço estipulado: 40 contos de réis, e a instituição não tinha dinheiro em caixa. Sabedor da situação, um italiano de posses, João de Luca se ofereceu para emprestar a quantia necessária e a transação foi efetivada.
Ainda, segundo o saudoso professor Vitiello, “a referida entidade fora inaugurada, em 1932, por seu pai, o engenheiro Antônio Vitiello, pelo Comendador Guiseppe Mastrangello e pelo Professor De Conti, funcionando num casarão de madeira, o “Chalé de Tábuas”, na esquina da Praça Paissandu, atual Marcílio Dias, com a Rua Julius Arp”.
“A sede central da Dante Alighieri é em Roma, na Itália, sendo que no Brasil, Nova Friburgo era a primeira cidade do interior onde ela era implantada, visto só existir nas capitais”. E ele prossegue: “Instalada em seu novo e pomposo endereço, começaria a fase áurea da entidade: aulas de italiano, de português, de conhecimentos gerais, de pintura, trabalhos manuais, canto, música, apresentações teatrais, tendo ficado, indelevelmente, gravados na memória da população friburguense, os grandes bailes que ali aconteciam”.
Segundo o Sr. Othon, “na parte térrea funcionava um pequeno teatro e onde aconteciam, também, festas sociais, bailes, horas de arte, sendo as aulas ministradas na parte superior do prédio, com destaque para as professoras D. Pia Povoleri de italiano, e D. Ítala Massa de português”.
Com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, no seu auge, por volta de 1943/44, o prédio da Sociedade Cultural Dante Alighieri foi confiscado pelo Governo, e nele instalada a Delegacia de Polícia (nos fundos do terreno, foi construída a cadeia pública), que ocuparia o imóvel por cerca de uns vinte anos.
Mesmo após sua mudança para a Vila Amélia, o prédio ainda continuava sob a jurisdição do Governo, abandonado, em ruínas.
II
Enquanto isto ( segundo narrativa primorosa do Prof. Antônio Carlos Vitiello, em seu trabalho “Cadernos Biográficos – Um Pouco da Vida e da Obra do Padre Fernando Sperzagni”), a comunidade católica de Nova Friburgo vivia um período de euforia, “ com a criação da Diocese de Nova Friburgo, em abril de 1960, pelo Papa João XXIII, que nomeou como Bispo, o monge beneditino D. Clemente José Carlos Isnard, ex-prior do Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro. Muito dinâmico, durante o seu bispado, restaurou igrejas, criou várias paróquias, como a de São Bento Abade, no Bairro Ypú, mas sentia a necessidade da construção de uma igreja na região do Paissandu”.
Por volta de 1965/66, chega à Diocese de Nova Friburgo o padre italiano Fernando Sperzagi, que se sentindo esgotado, pede desligamento da Congregação dos Padres Carlistas (Ordem de São Carlos Borromeu). Havia trabalhado na Paróquia de Guaporé, Rio Grande do Sul, onde realizou um grande trabalho de evangelização. No Estado de São Paulo, em Santo André, foi o responsável pela construção da Igreja Matriz e em Ribeirão Pires, concluiu a obra da Matriz iniciada pelo seu antecessor que falecera. A chegada de Padre Fernando era pois de grande valia e o Bispo lhe dá a incumbência de edificar uma igreja, nas proximidades da Praça Marcílio Dias. No entanto, onde conseguir um terreno?
Entre idas e vidas, em uma de suas caminhadas, passa pela antiga sede da Sociedade Cultural Dante Alighieri e se surpreende com a amplitude do seu terreno. Fica interessado, e procura saber a quem pertencia tal imóvel. Sabedor da situação jurídica do mesmo, procura o representante consular italiano em Nova Friburgo, o Comendador Guiseppe Mastrangelo. Juntos, lideraram uma batalha de natureza jurídica, política e diplomática para obter a devolução do prédio confiscado. Com o apoio do Prefeito Amâncio Mário de Azevedo, no mês de setembro de 1967, o Governador Celso Peçanha devolveu as chaves da Sociedade Cultural Dante Alighieri aos seus representantes legais. No entanto, ainda havia um obstáculo. Segundo o Prof. Vitiello, “o patrimônio estava registrado em nome da Sociedade Cultural Dante Alighieri do Rio de Janeiro. A ela, e somente ela, competiria dar destino ao bem ora devolvido”. Começaria, então, toda a parte burocrática da transação. Mas como obter recursos financeiros necessários para tal empreendimento?
Ainda de acordo com o Prof. Vitiello, Padre Fernando confidenciou a sua preocupação a uma pessoa amiga que lhe deu a seguinte sugestão: “Procure uma firma construtora, entrega-lhe o terreno, construa um edifício de apartamentos, sob regime de condomínio, sediando na parte inferior a tão sonhada igreja; assim, a Dante preserva e amplia o que é seu e a igreja de Nova Friburgo ganha o seu tão sonhado templo”… E ele prossegue: “Por fidelidade aos fatos, deve-se lembrar o trabalho jurídico, aqui em Nova Friburgo, do advogado Dr. Victorio Carielo”.
O sábio conselho dado pela pessoa amiga foi seguido, o antigo palacete demolido, o edifício residencial construído e, “finalmente, no dia 4 de outubro de 1972, D. Clemente Isnard consagrava e entregava à comunidade católica friburguense a Igreja de São Francisco de Assis, na parte térrea do Edifício Itália”.
Quanto à Sociedade Cultural Dante Alighieri ocupou a cobertura do citado edifício, contando com um espaçoso terraço.
Do antigo palacete que precedeu o Edifício Itália, só restaram histórias, lembranças, saudades e velhas fotografias.
(Atenção: Não confundir “Sociedade Cultural Dante Alighieri” com a “Casa d’Itália”, Av. Alberto Braune 153, fundada em 1914, resultado da fusão de duas associações italianas anteriores.)