Publicado: 22/09/2017
Tão perfeita como a mistura queijos e vinhos é a combinação música romântica e poesia. Da última, surgiu na Rádio Sociedade de Friburgo (chamada, carinhosamente, de “Rádio Cipó, sempre amiga”), um programa na década de 1960, mais precisamente, nos anos 65, 66 e parte de 67. Ia ao ar todas as segundas-feiras, às vinte horas e trinta minutos, sendo constituído de poesias e de algumas músicas românticas.
Era o programa “SUAVE É A NOITE”. O seu título não era só devido ao conteúdo de sua programação, mas porque o seu prefixo era o grande sucesso da época, “Suave é a Noite”, melodia interpretada por Moacyr Franco.
O citado programa contava com as participações do seu idealizador, Dr. Augusto Cláudio Ferreira (Juiz da Justiça do Trabalho e Membro da Academia Friburguense de Letras), de Carlos Saldanha, Waldyr Saldanha, Ênio Cabral e da cronista que lhes escreve.
Naquele tempo, “A Emissora das Montanhas”- ZYE- 4, funcionava no sobrado existente em cima do antigo Restaurante Majórica (hoje, Ponto Frio), na Praça Getúlio Vargas, contando com um amplo auditório. Só mais tarde, passaria para o Edifício Comércio e Indústria, onde se encontra instalada.
A rádio formou grandes nomes, que depois trabalharam na Rádio Nacional e Rádio Globo, como Hugo Rodolfo, que criou “o globo no ar”, Jorginho Abicalil, Edmo Zarif, Moisés, Carlos Rosemberg, Mário Thurler, entre outros.
Não tínhamos patrocinadores, e a nossa remuneração era a alegria de um bom desempenho.
Recebíamos sugestões de ouvintes, alguns nos enviavam poesias e faziam pedidos. Os meus poetas preferidos eram J. G. de Araújo Jorge, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Júlio Salusse e Memotti Del Picchia. O último tomou parte no movimento modernista, realizado em São Paulo, em 1922, a “Semana de Arte Moderna”, ao lado de outros expoentes da nossa literatura, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e outros.
Ao ler de Del Piccha, “Juca Mulato”, o trecho do seu diálogo com o feiticeiro, eu o fazia com muito entusiasmo e sentimento. Empolgante:
– Juca Mulato! Esquece o olhar inatingível!
Não há cura ai de ti! Para o amor impossível.
Arranco a lepra ao corpo; extirpo da alma o tédio;
só para o mal de amor nunca encontrei remédio…
Foge! Arrasta contigo essa tortura imensa,
que o remédio é pior do que a própria doença,
pois para curar um amor tal qual esse…
– Que me resta fazer?
-Juca Mulato: esquece!
Divagações à parte, infelizmente, tudo passa, nada é para sempre. Assim é a vida. Contudo, resta-me a satisfação de saber que, embora por pouco tempo, eu passei a fazer parte da história da Rádio Sociedade de Friburgo.