MÃE COM CORAÇÃO DILACERADO CONCEDE ENTREVISTA AO JORNALISTA BARNEY CAMPOS, DA INTERTV –
Por Barney Campos, g1 – Nova Friburgo
Leonel Lengruber, de 4 anos, morreu na noite de domingo, 8/12, no Hospital Raul Sertã, em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio de Janeiro. Lorrayne Silibri disse que o filho morreu após uma série de negligências médicas durante o atendimento na unidade. O caso está sendo investigado pela Prefeitura (leia mais abaixo).
A criança estava internada na ala da pediatria desde o dia 4/12, quando começou o que Lorrayne chamou de “um show de horrores”.
Segundo a mãe, os médicos informaram primeiro que o filho tinha uma gripe, depois uma pneumonia e até coqueluche. Percebendo que o quadro de Leonel só piorava, ela disse que acionava a equipe do hospital com frequência. No entanto, a gravidade do quadro de saúde do menino foi ignorada.
Ela contou como eram os momentos do atendimento e o que dizia a equipe médica.
“Toda hora, chamando enfermeira, chamando médico. Aí mede saturação, mede temperatura de febre.
‘Ai, mãe, ele não tem nada!’. Gente, como é que ele não tinha nada se meu filho estava branco? A boquinha dele, às vezes, ficava roxa e branca. Ele só queria ficar deitado, o olhinho esbugalhado. Só queria ficar assim, quem conhece meu filho sabe, era alegria em pessoa”, disse.
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“Então, meu filho começou a definhar, e eu chamava a enfermeira, pedia para chamar o médico, e o médico passava uma vez no dia, e meu filho parecia que, da tarde para a noite, piorava”.
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Lorrayne disse que chegou a ir à emergência em busca de ajuda. E que disse o que ouviu de um dos médicos:
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“Por que você me chamou à toa?”.
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A mãe contou ainda que percebia que o filho estava respirando mal.
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“O peito dele pulava, gente! Estava uma coisa horrível. Eles podiam ter evitado a tragédia que aconteceu”.
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“E meu filho continuava mal, e eu falava com as enfermeiras, as enfermeiras mediam a saturação, ignorando o fato dele estar mal. Domingo de manhã, uma das enfermeiras falou comigo que o médico estava até querendo dar alta, que daria alta, que só não deu alta no domingo porque meu filho não estava querendo comer”, lembrou Lorrayne.
Mas, ao longo do domingo, a situação se agravou ainda mais. Lorrayne disse que entrou em desespero.
“Eu falei que eu ia ficar com ele ali mais uma noite, que eu não ia vir para casa dormir. Parecia que eu já estava sentindo! Ele não conseguia falar mais nada. Eu saí correndo com meu filho no colo, eles botaram ele na cadeirinha, ele virou o olho, ficou com a boca roxa. As enfermeiras foram para a sala, começaram a fazer massagem cardíaca nele, e eu saí gritando o corredor inteiro chamando os médicos, porque só tinha uma pediatra de plantão, uma pediatra, uma!”
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“E falaram que era para eu ter descido para a emergência, fizeram tudo errado. E o andar da pediatria fica muito longe para pegar carrinho de parada, para pegar as coisas. Subiu um monte de médico, que nem era da especialidade deles, para tentar ajudar as enfermeiras”.
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“Fizeram uma mobilização, tentaram reanimar meu filho por muito tempo, e, depois, a médica voltou para mim e disse que ele não resistiu. Eu não tive nem amparo psicológico, só falaram isso”, contou Lorrayne.
Atestado de óbito
De acordo com o atestado de óbito, Leonel morreu devido a quatro causas: choque cardiogênico, miocardite, pneumonia e infecção por germe atípico.
“Eu tento não chorar porque meu filho odiava que eu chorasse. E ele chorava junto e ficava me abraçando, e falava: ‘mamãe, você está triste, mamãe?’ Agora nunca mais eu vou ter esse abraço. O amor da minha vida se foi”.
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“A gente sempre pensa em vestir nossos filhos um dia para a formatura, para sair com a primeira namorada, para várias coisas, mas nunca, nunca, nunca a gente pensa em escolher uma roupa de velório”.
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“Meu maior arrependimento foi ter deixado ele internado naquele lugar”, desabafou a mãe.
Antes da internação
Ao g1, Lorrayne contou ainda que a peregrinação para tentar salvar a vida do filho começou pela UPA de Conselheiro Paulino. Ela procurou a unidade na terça-feira, 3/12, assim que o filho passou mal, mas nem raio-x a criança conseguiu fazer, porque o aparelho estava quebrado.
“O médico disse que ele precisava fazer raio-x e exame de sangue. Meu filho era uma criança que se alimentava muito bem, então, se ele não queria se alimentar, já era motivo de alerta. Ele não queria brincar muito, estava mais prostradinho, quietinho. Levei na terça, aí fui para o Raul Sertã [hospital], esperei o atendimento, cheguei na médica do plantão, relatei tudo e, mesmo assim, ela falou que meu filho estava com quadro viral de gripe”.
A médica da emergência, ainda segundo a mãe, não passou exames para um diagnóstico preciso.
“Não passou um exame de sangue, não passou um raio-x porque ela disse que não havia necessidade. Mesmo vendo a forma que o meu filho estava. Aí eu não fiquei satisfeita porque uma mãe quer um diagnóstico quando o filho não está bem, quando tem alguma coisa disfuncional. Eu percebi que havia alguma coisa disfuncional nele”.
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“E a gente procura um hospital porque a gente quer salvar, a gente quer melhorar, a gente quer curar a nossa criança, a gente não quer sair com ele para um velório”, disse Lorrayne.
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Leonel Lengruber foi enterrado no cemitério Trilha do Céu na segunda-feira, 9/12, em Nova Friburgo. O menino de 4 anos era filho único.
“Quem conhecia meu filho sabe que não é coisa de mãe. Sabe que meu filho era uma criança muito grande. Muito, muito especial, onde ele passava cativava as pessoas porque ele era um ser muito iluminado, um serzinho que não merecia”.
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“Nada vai trazer meu filho de volta, mas eu acho que a justiça confortaria a minha família porque eles partiram, principalmente a mãe, mas a minha família inteira, todo mundo amava meu menininho” , finalizou Lorrayne.
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PREFEITURA INVESTIGARÁ O CASO
Em um vídeo divulgado nas redes sociais, o prefeito de Nova Friburgo, Johnny Maycon, lamentou o ocorrido. Ele disse que abriu um procedimento para investigar o caso.
“Assim que a gente tomou conhecimento, nós entramos em contato com o nosso pessoal, o Secretário de Saúde, acionamos nosso secretário Gabriel para que sejam realizadas todas as apurações, para que a gente entenda exatamente o que aconteceu nesse episódio. Todas as vezes em que a gente tem a sinalização de um indício de uma irregularidade, a gente faz essas apurações e, em seguida, são tomadas as medidas. Já tivemos casos, por exemplo, em que, ao final, evidenciou-se que não houve qualquer tipo de negligência por parte do servidor, mas também já tivemos outros casos em que foi identificada uma falha, e aí, obviamente, como nós não compactuamos com qualquer tipo de irregularidade, as medidas foram tomadas”, disse o prefeito, sem especificar quais medidas seriam essas.