Friburgo tem protesto contra feminicídios e resultado de julgamento de Rodrigo Marotti

10/02/2022 20:10:17
Compartilhar

MANIFESTAÇÃO PACÍFICA COMEÇOU NA PMNF, PERCORREU ALBERTO BRAUNE E TERMINOU NO CENTRO DE TURISMO –


Dezenas de pessoas fizeram protesto pacífico em Nova Friburgo na tarde/noite desta quinta-feira, 10/2. A manifestação teve como um dos principais focos o resultado do julgamento de Rodrigo Marotti, acusado da morte da artista plástica Alessandra Vaz e da amiga dela, Daniela Mousinho. O réu foi condenado a 19 anos e 4 meses de reclusão pelo crime de incêndio com resultado de mortes, entretanto, foi absolvido da acusação de crime de homicídio qualificado, consequentemente, pelo duplo feminicídio.


“Foi feminicídio, sim!”, Esta foi a frase de cartazes exibidos na manifestação e também de nota de repúdio redigida em conjunto por mais de 20 coletivos e organizações.


O protesto teve início em frente ao prédio da Prefeitura, percorreu a Avenida Alberto Braune, e foi concluído com ato na Praça Dermeval Barbosa Moreira, em frente ao Centro de Turismo. A Procuradoria de Justiça divulgou que recorrerá da decisão do Tribunal do Júri pedindo a sua anulação.


NOTA DE REPÚDIO DE 20 COLETIVOS


“Foi feminicídio, sim!” – Esta é a frase que inicia a nota de repúdio redigida em conjunto por mais de 20 coletivos do estado do RJ contra a sentença do júri no caso da morte de Alessandra Vaz, e a amiga dela, Daniela Mousinho, em Nova Friburgo. A decisão desconsiderou a intenção de matar.


A tragédia aconteceu em outubro de 2019. Nesta terça-feira, 8/2, Rodrigo Marotti foi condenado a 19 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de incêndio com resultado de mortes e furto praticado durante o repouso noturno. O furto foi do carro de Alessandra para fugir do local do crime.


A organização Tecle Mulher fez uma postagem nas redes sociais logo nas primeiras horas da quarta-feira, 9/2, repudiando a decisão .


“O Tecle Mulher se indigna com a sentença dada para Rodrigo Marotti! A sociedade friburguense se posiciona ao lado dos assassinos de mulheres. É feminicídio, sim! Um ato de extrema covardia, sim! Nós mulheres corremos perigo sempre, até depois de mortas”, diz a publicação.


O coletivo Império das Negas também se posicionou nas redes sociais: “Nossos corpos ainda não são prioridade, nossas vidas ainda não valem a justiça, e mais uma vez, nossa morte não comove a sociedade! Transformaremos nosso luto em luta para que a justiça seja feita por nós. Nossa solidariedade aos amigos e familiares de Alessandra e Daniela”.


“O feminicídio de Alessandra Vaz e Daniela Mousinho foi um crime cometido como consequência das violências contra a mulheres, pelo fato de serem mulheres. A conclusão dos jurados, 4 homens e 3 mulheres, não representa a vontade da parcela feminina da população de Nova Friburgo e região, a grande responsável pela movimentação econômica da região, reforçando a mácula do machismo estrutural, entranhada na nossa sociedade! O júri, ainda por cima, colocou as vítimas como rés, em seu posicionamento. Foi crime de feminicídio sim, um crime hediondo em nossa legislação”, diz o texto.
Assinaram o manifesto as seguintes instituições : Tecle Mulher, Rede de Mulheres de Nova Friburgo, REDEH – Rede de Desenvolvimento Humano, Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário do Estado do RJ, AMB RIO – Articulação de Mulheres Brasileiras, Apartida/RJ, Sindicato dos Modelos Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, Instituto Social Black Brasil ,Centro Cultural Afro – Brasileiro Ysum Okê, 8M Nova Friburgo, Coletiva Mulheres na Serra, Núcleo Popular de Mulheres Leny Reis, Associação dos Agentes de Saúde de Nova Friburgo, Biblioteca Comunitária do Vale dos Peões, Fórum Popular Permanente do Alto Rio Macaé, CFCAM – Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, Rede de Mulheres em Comunicação Amarc Brasil, Ama_Lumiar – Associação de Moradores de Lumiar, Império das negas, Maiara Felício Vereadora PT/NF e UJC – Nova Friburgo.


As instituições estão colhendo mais assinaturas e o documento será entregue a organizações da justiça e de Direitos Humanos.


Os familiares das vítimas também estão indignados com a sentença. “Nós estamos todos embasbacados com a decisão do júri de absolvê-lo do dolo do crime. Estamos embasbacados com a frieza como as pessoas podem tratar o feminicídio de duas mulheres. Frieza tal que desconsiderou o feminicídio da minha mãe e da Alessandra. É de um absurdo imenso que você olhe pra um crime desse, que você ouça os advogados falarem o dia inteiro, que você ouça diversas testemunhas falarem que um homem pegou um colchão, ateou fogo e colocou na porta do banheiro que era a única das duas mulheres e que no final ele não teve intenção de matá-las. Isso é um absurdo. Então nós estamos muito revoltados com a decisão do júri”, disse Luiza Mousinho, filha de Daniela.


O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro recorreu na própria sessão de julgamento por entender que a decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos. O recurso terá por objetivo a anulação do júri para submeter o acusado a novo julgamento perante o Tribunal do Júri, para que seja condenado por duplo feminicídio em nova sessão plenária.


A Defensoria Pública do Rio de Janeiro disse em nota que representa Rodrigo Marotti e que não se manifestará sobre sua estratégia de defesa.

Compartilhar