De um lado, a esperança de tratamento para a doença que ocasiona cerca de 190 mil óbitos por ano no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Do outro, o temor das reações adversas que podem ser causadas por um medicamento ainda em fase de testes. Não é à toa que a pílula do câncer tem gerado polêmica.
Nem mesmo os especialistas chegam a um consenso. Naturalmente, a perspectiva de um remédio capaz regredir tumores é positiva. A dúvida fica por conta da aprovação da Lei 13.269 sem que a fosfoetanolamina tenha sua eficácia comprovada cientificamente.
Entenda a polêmica sobre a pílula do câncer
O burburinho relacionado à pílula começou no ano passado. Relatos de cura a partir do medicamento alimentaram a fé de pacientes oncológicos. Enquanto isso, a substância era sintetizada e distribuída na Universidade de São Paulo (USP) por determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo, mesmo sem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Foram os próprios pesquisadores da USP, porém, que recorreram à justiça para informar que a eficácia, a segurança e a qualidade do remédio à base de fosfoetanolamina eram incertas. Assim, a distribuição foi suspensa. Foi então que o Governo Federal decidiu financiar pesquisas para testar a chamada pílula do câncer.
Inclusive, foi disponibilizado um site para a população acompanhar os testes – ainda em andamento. De acordo com nota publicada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e pelo Ministério da Saúde no portal, a aprovação da lei que autoriza o uso da fosfoetanolamina sintética vai ampliar os estudos sobre o medicamento.
Para a maioria da classe médica, a dúvida que fica é por que o uso da substância foi aprovado se as pesquisas estão em andamento. A Sociedade Brasileira de Cancerologia, por meio de nota oficial, se posicionou contrária à utilização do remédio no tratamento de pacientes oncológicos.
O médico Auro Del Giglio, chefe do Departamento de Oncologia Clínica do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), também se manifestou contrário à aprovação da fosfoetanolamina antes do término dos testes. Ele acredita que seriam necessários, no mínimo, quatro anos de pesquisaspara se ter ideia dos efeitos da substância no organismo.
“Esta não é uma forma adequada para se liberar um medicamento. É preciso primeiramente saber se ele apresenta resultados positivos. A aprovação desta droga, sem respaldo científico, é perigosa”, afirmou Giglio.
Do outro lado, pacientes com câncer e suas famílias consideram a liberação uma conquista, já que a pílula é vista por muitos como uma possibilidade de revolucionar a medicina e melhorar a expectativa de vida de quem sofre com a doença.
Pílula do câncer: eficaz ou não?
Em termos gerais, há relatos de casos em que a fosfoetanolamina foi eficaz na redução de tumores, mas há também ocorrências em que a substância não foi capaz de frear a doença. Cientificamente, nada foi confirmado.
Os primeiros testes realizados pelo MCTI concluíram que a substância não é pura e não apresenta eficácia contra células cancerígenas em testes in vitro. Porém, os defensores da fosfo – como é apelidada – lembra que existem interesses da indústria farmacêutica por trás da liberação ou não do medicamento.
A justificativa é de que se trata de uma alternativa mais barata e menos radical do que a quimioterapia, tradicionalmente usada ao longo do tratamento oncológico. A boa notícia é que, com a iniciativa federal de verbas para pesquisa, a resposta sobre a eficácia da pílula já está em desenvolvimento.
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