A ERA DE OURO DO RÁDIO

29/09/2021 20:09:49
Compartilhar

Por ocasião das festividades do centenário da “Independência do Brasil”, em 7 de setembro de 1922, o Presidente Epitácio Pessoa falou aos brasileiros, através de uma transmissão à distância, sem fios. Por meio de uma antena instalada no Morro do Corcovado, alcançou o Rio, Niterói, Petrópolis e São Paulo.   

O médico Edgard Roquette-Pinto que criara a Sociedade Brasileira de Ciências, com Henrique Morize e outros, no Rio de Janeiro, em 3 de maio de 1916, se entusiasmou com o sucesso da transmissão. Convenceu os demais membros a patrocinarem a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que foi inaugurada em 20 de abril de 1923.               

Na referida emissora foi ao ar, pela primeira vez, em 22 de julho de 1935, “A Voz do Brasil”, o mais antigo programa da radiofonia brasileira, na voz do locutor Luís Jatobá.                                                                                      

A Rádio Sociedade do Rio de Janeiro durou 13 anos, quando foi doada ao Ministério da Educação e Cultura, em 1936, surgindo a Rádio MEC-AM.  

 A Rádio Mayrink Veiga foi fundada por Antenor Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1926.

Em 1927, foi fundada a Rádio Educadora do Brasil, no Rio de Janeiro, que passaria a se chamar Rádio Tamoio, no ano de 1944, ao ser comprada pelos Diários Associados.

A Rádio Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, iniciou as suas atividades em 10 de agosto de 1935, a partir de uma concessão federal obtida pelo Conde Pereira Carneiro .

 A Rádio Tupi do Rio, pertencente aos Diários Associados, foi inaugurada por Assis Chateaubriand, em 25 de setembro de 1935, com a presença do inventor do rádio Guglielmo Marconi.  A Tupi de São Paulo foi inaugurada, em 3 de setembro de 1937.         

                                                       A RÁDIO NACIONAL

 Digna de destaque é a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, por estar comemorando neste ano de 2021, quatro datas significativas:

 – 85 anos de sua existência, inaugurada em 12 de setembro de 1936, no 22º andar do Edifício Joseph Gire (mais conhecido por prédio do jornal “A Noite”), na Praça Mauá, no Rio;                                             

– 80 anos do lançamento da primeira radionovela do Brasil – “Em Busca da Felicidade”- em 5 de junho de 1941;

 – 80 anos da entrada no ar, d’o “Repórter Esso”-  A Testemunha Ocular da História-  em  28 de agosto de 1941, na voz do jornalista e radialista Heron Domingues;                                                                                                                               

– 70 anos do lançamento, no ano de 1951, daquela que seria, no Brasil, o maior fenômeno de audiência em radionovela, “O Direito de Nascer”.                                                                                                                                       

Quanto à primeira radionovela, “Em Busca da Felicidade”, a ideia de apresenta- lá veio da “Standard Propaganda”, agência da firma “ Creme Dental Colgate” que patrocinou a novela, de autoria do cubano Leandro Blanco, adaptada por Gilberto Martins. O elenco era composto por Rodolfo Mayer, Zezé Fonseca, Isis de Oliveira, Floriano Faissal, Yara Salles, Lourdes Mayer, Saint-Clair Lopes, Brandão Filho, dentre outros, sob a direção de Vitor Costa.                    

A novela obteve alto índice de audiência, ficando no ar até 1943.

Outro grande sucesso foi “O Direito Nascer”, de autoria do cubano Felix Caignet. Por dois anos, os ouvintes se emocionaram com os personagens Albertinho Limonta, na interpretação de Paulo Gracindo e Mamãe Dolores, na voz de Yara Salles.

Vários autores brasileiros de novelas teriam seus nomes consagrados, para sempre, dentre eles: Amaral Gurgel, Ghiaroni, Hélio do Soveral, Saint-Clair Lopes, Janet Clair, Dias Gomes, Walter Forster.                    

Nesta época, a Rádio Nacional já não pertencia a uma das empresas brasileiras do empresário norte-americano Percival Farquhar. Em 8 de março de 1940, a emissora havia sido estatizada pelo governo do “Estado Novo”, do Presidente Getúlio Vargas, que a transformou numa rádio oficial. 

Na década de 1940, o dia começava com programas sertanejos. A seguir, “A Hora da Ginástica”, com Oswaldo Diniz Magalhães. Os seus seguidores dispunham de um roteiro impresso, com fotografias numeradas de um atleta, em variados exercícios.

Papai participava, com assiduidade, obedecendo as instruções do Prof. Diniz Magalhães: “Agora vamos ao exercício nº 8. Observem a posição da figura. Mãos na cintura, cabeça erguida, abdome contraído, etc., etc ”.

O programa tinha uma hora de duração, havendo pausas para que o “atleta-radiouvinte” fizesse exercícios respiratórios. Quando o radialista dizia inspire, oxigene os pulmões, meu pai   abria a porta da varanda e respirava, profundamente. Às vezes, apesar da minha pouca idade, eu o acompanhava em algumas atividades, nas salas de visita e de jantar, marchando em torno da mesa.  

 Às 8:00 horas, na voz de Heron Domingues, o “Repórter Esso”.

Naquela época, tudo era feito ao som do rádio: afazeres domésticos, como a limpeza da casa e os preparativos do almoço; à tarde, confecções de trabalhos manuais, ouvindo  programas femininos de conselhos sentimentais e de utilidades domésticas, e os musicais, com destaque para os tangos; às 18:00 horas, “ A Hora da Ave-Maria”, na voz de Júlio Lousada; à noite, a família se reunia, na sala, em torno do aparelho de rádio, para acompanhar a variada programação. 

E variedade é o que não faltava, na Rádio Nacional, satisfazendo todos os gostos: “Incrível, Fantástico, Extraordinário” histórias do sobrenatural e “Recolhendo o Folclore”, ambos com Almirante; “Edifício Balança Mas Não Cai”, destacando-se o Primo Rico e o Primo Pobre, com Paulo Gracindo e Brandão Filho; “Coisas do Arco da Velha” com Marion, Blecaute, Ema d’Ávila, Floriano Faissal, Nilza Magrassi;  “Alvarenga e Ranchinho”  e “Jararaca e Ratinho”  duplas sertanejas; “PRK-30” com Lauro Borges e Castro Barbosa; “Tancredo e Trancado” com  Brandão Filho e Apolo Corrêa; “Marlene Meu Bem”, produção de Mário Lago, com Marlene e Luís Delfino; “Papel Carbono” dirigido e apresentado por Renato Murce; “Um Milhão de Melodias” produção de Paulo Tapajoz; “Calouros em Desfile” comandado por Ary Barroso, que gongava o candidato que desafinasse; “A Hora do Pato”, programa de calouros, criado e apresentado por Heber Bóscoli, depois, por Jorge Curi; “Quando os Ponteiros se Encontram” produção de Ghiaroni, com Francisco Alves, apresentado por Lúcia Helena e José Renato;                                                                                                                                                                     

“Piadas do Manduca”com Renato Murce, Lauro Borges, Castro Barbosa e Brandão Filho; “Trem da Alegria” com Yara Salles, Heber Bôscoli e Lamartine Babo; “Programas de Auditório” de Manoel Barcelos, Paulo Gracindo e o de César de Alencar ,o mais famoso, durante as tardes de sábado;   Os inúmeros programas apresentados pelo radialista Paulo Roberto, (pseudônimo do médico José Gomes): “Nada Além de Dois Minutos”, “Gente que Brilha”, “Honra ao Mérito”, “A Lira do Xopotó, “ Obrigado Doutor”.

Em 2 de dezembro de 1944, foi fundada a Rádio Globo do Rio, pelo jornalista Roberto Marinho e a de São Paulo seria, em 1º de maio de 1952.

Na cidade de Nova Friburgo, no dia 1º de junho de 1946, foi inaugurada a ZYE-4 / Rádio Sociedade de Friburgo, que tinha como proprietários, de início, os senhores Carlos Sherman e José Eugênio Muller, passando, pouco tempo depois, para Dr. Aloyso de Moura, segundo o saudoso jornalista Ângelo Ruiz. Ficava localizada na Praça 15 de novembro, 74,1º andar (atual Praça Getúlio Vargas), sobrado do Bar Atlantic (futuro Restaurante Majórica, atual loja do “Ponto Frio”), contando com amplo auditório, para seus concorridos e populares programas.

 No cenário internacional, o rádio consagrou: Carlos Gardel, Frank Sinatra, Bing Crosby, Johnny Mathis, Tony Bennet, Edith Piaf, Maurice Chevalier, Lucho Gatica, Bienvenido Granda, Nat King Cole, Elvys Presley, o trio “Los Panchos”, Pepino de Capri, Sandra Dee, Domenico Modugno, Rita Pavoni, o trio “Los Panchos”, Ray Conniff e sua Orquestra, Julio Iglesias, Manolo Otero, Luís Miguel.

O rádio imortalizou compositores brasileiros como: Pixinguinha, Sinhô, Donga, Noel Rosa, Lamartine Babo,  João da Baiana, Heitor dos Prazeres, Ismael Silva, Orestes Barbosa, João de Barro (Braguinha), Assis Valente, Mário Reis,  Hervê Cordovil, Altamiro Carrilho, André Filho (autor de “Cidade Maravilhosa”), Herivelto Martins, Luís Gonzaga, Ataulfo Alves, Adoniram Barbosa, Zé Keti, Dorival Caymmi, Haroldo Barbosa, Evaldo Gouveia e Jair Amorim, Adelino Moreira, Lupicínio Rodrigues, Nássara, João Gilberto, Vinicius de Moraes, Newton Mendonça e outros mais.     

O rádio projetou cantores nacionais como: Aracy de Almeida, Vicente Celestino ,Augusto Calheiros, Orlando Silva, Manezinho Araújo ( “O Rei da Embolada”), Inezita Barroso, As Irmãs Galvão, Roberto Paiva, Gilberto Alves, Silvio Caldas, Carlos Galhardo, Moreira da Silva, Francisco Alves, João Dias, Nelson Gonçalves, Ciro Monteiro, Carmen Miranda (chegando à fama internacional), Aurora Miranda, Carmen Costa, Isaurinha Garcia, Blecaute, Jorge Veiga, Elizeth Cardoso, Ademilde Fonseca, Dick Farney, Lúcio Alves, Dóris Monteiro, Sílvio César, Jamelão, Linda Batista, Dircinha Batista, Carmélia Alves (“Rainha do Baião”), Dalva de Oliveira, Marlene, Emilinha Borba (“ Favorita da Marinha”), Ivon Curi, Jorge Ben, Adelaide Chiozzo,  Dolores Duran, Agostinho dos Santos, Miltinho, Roberto Luna, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Elza Soares, Silvinha Telles, Waner Nascimento ( faleceu no início da carreira), Carlos Alberto, Agnaldo Rayol, Núbia Lafayette, Clementina de Jesus, Gregório Barrios, Ellen de Lima, Agnaldo Timóteo, Silvinho, Francisco Carlos, Pery Ribeiro, Evaldo Braga, Altemar Dutra, Edith Veiga, o friburguense Paulo Vinicius.

Além do rádio, já contando com a televisão, para a sua popularidade: Maysa, João Gilberto, Antônio Carlos Jobim, Menescal, Ronaldo Bôscoli, Johnny Alf, Carlos Lira, Tito Madi, João Roberto Kelly, Luciene Franco, Lana Bitencourt, Leny de Andrade,  Nara Leão, Hugo Santana ( “Campeão das Madrugadas Paulistas”), Wilson Simonal, Sérgio Murilo, Sonia Delfino, Carlos Nobre, Jair Rodrigues, Waldick Soriano, Nana Caymmi, Emílio Santiago, Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle, Wanderley Cardoso, Ronnie Von, Jerry Adriani, Cely Campelo, Roberto Carlos, Wanderléia, Erasmo Carlos, Martinha, Tim Maia, Paulo Sérgio, Sandra de Sá, Gonzaguinha, Martinho da Vila, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Ney Matogrosso, Moacyr Franco, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Betânia, Gal Costa, Chico Buarque, Rita Lee, Claudete Soares, Alcione, Wando, Beth Carvalho, Paulinho da Viola, Clara Nunes, Roberta Miranda, Orlando Dias, Zeca Pagodinho, Sérgio Reis, Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Zezé de Camargo e Luciano, Odair José,  Adilson Ramos, o friburguense Benito de Paula, Fagner, Jessé, Antônio Marcos, Vanusa, Alcione, Fafá de Belém, Daniel, Elimar Santos.

O rádio deu destaque aos maestros:  Radamés Gnattali, Lírio Panicalli, Léo Peracchi, Guerra Peixe, Severino Araújo, Érlon Chaves, “Maestro Cipó” (Orlando de Oliveira Costa); aos pianistas “Waldyr Calmon e Seu Conjunto”, “Benê Nunes e Sua Orquestra”, ‘’ Sérgio Mendes e Brasil 66”; aos conjuntos: Ed Lincoln, “Ruy Rey e sua Orquestra”, “Trio Irakitan”.

Quantos sonhos acalentados …  ao  som de tantas melodias românticas!

Para que os ouvintes ficassem atualizados a respeito dos programas e os fãs conhecessem   a vida de seus ídolos, duas revistas especializadas: “Revista do Rádio” e “Radiolândia”.

Os últimos anos de 1930, os de 1940 e 1950, e os primeiros da década de 60 marcaram o auge do rádio no Brasil. Depois, viria a concorrência da televisão.

Ao longo dos anos, o rádio sacramentaria programas inesquecíveis:                             

Na MAYRINK VEIGA– “A Cidade se Diverte”, “Marmelândia, O País das Maravilhas” escrito por Max Nunes, “Peça Bis pelo Telefone”, “Vai da Valsa”;

Na TAMOIO– “Músicas na Passarela”, “Músicas na Berlinda”, “Em cada Coração, Uma Canção”, “Riquezas Mil deste Brasil”;  

 Na JORNAL DO BRASIL– “Encontro com a Imprensa”, “Música Melodiosa”, “Primeira Página”, “Jazz e Blues”, “Transmissão dos Páreos disputados no Jóquei Clube do Rio de Janeiro”, “Programas de “Bossa Nova”;

Na TUPI –  “Caleidoscópio”, com Carlos Frias, “Hora do Guri” (infantil), “Hora Elegante” (feminino), “O Grande Jornal Falado da Tupi”, “Hora da Ave Maria” e “Pausa para Meditação” com Júlio Lousada, e um programa popular diário, das 9,00 às 13,00 horas, com o friburguense Carlos Rosemberg que, passando depois para a Nacional, apresentaria o “Programa Carlos Rosemberg” de auditório, e o de calouros “A Caminho do Sucesso”;

Na GLOBO– “O Globo no Ar”, “Conversa em Família”, “Tribuna Política”, “Show de Paulo Lopes”, “A Vida é Assim” com Hélio Tys, “Show de Antônio Carlos”, “Falando de Mulher”, “Show da Cidade”, “O Seu Redator Chefe”, os programas de Luís de Carvalho, Haroldo de Andrade, Mário Luís, Jonas Garret, Waldyr Vieira e comandados pelo friburguense Édmo Zarife (famoso pela vinheta “Brasil, sil, sil”) os programas populares “Rio” Total”, “O Show das Cinco” e “Super Paradão”.

Os programas femininos tinham grande audiência: Sagramor de Scuvero, na Mayrink Veiga, com uma programação diferente, em cada dia da semana; “Nena Martinez e Você”, na Tupi, tendo atuado por quase 70 anos, no rádio; Daisy Lúcidi, na Nacional, com o seu programa “Alô Daisy”, ao longo de 46 anos, tendo apresentado, anteriormente, com César Ladeira, “Seu Criado, Obrigado! ”

 O radialista César Ladeira foi o criador dos nomes artísticos: “Rei da Voz” (Francisco Alves), “Pequena Notável” (Carmen Miranda), “O Cantor que Dispensa Adjetivos” (Carlos   Galhardo), “Caboclinho Querido” (Sílvio Caldas), “Garota Grau Dez” (Emilinha Borba –  “Favorita da Marinha”).  Já o nome “Divina” foi dado a Elizeth Cardoso, pelo produtor e sambista Haroldo Costa.  

Muitos foram os famosos que iniciaram suas carreiras artísticas, no rádio: Abel Pera, Emma  d’Ávila, Sílvio Santos, Chico Anysio, Paulo Silvino, Manuel da Nóbrega, Golias, Jô Soares, Jardel Mello, Renato Corte Real, Chacrinha, Bolinha, Ary Barroso, Hebe Camargo, Lolita Rodrigues, Raul Gil, etc.

 O universo radiofônico é uma imensidão, abrigando em sua amplitude um número incontável de constelações, com os mais brilhantes astros:  Silvino Neto, Blota Junior, Antônio Maria, Sérgio Porto, Gil Gomes, Eliakim Araújo, Alberto Curi, Cidinha Campos, João Saldanha, Waldyr Amaral, Paulo Barbosa, Humberto Marçal, Milton Neves e uma centena de outros mais.

 Mencionar todos os nomes, num simples artigo, constitui uma tarefa impossível de ser realizada.

Só quem vivenciou esta época pode, com entusiasmo, descrever a magia do RÁDIO, e eu tive este privilégio. Ele faz parte de minha vida.                                      

25 DE SETEMBRO – DIA NACIONAL DO RÁDIO

                             

Compartilhar