Em memória de Manoel Affonso Cunha (filho de Euclides da Cunha)

13/07/2022 11:08:06
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(Nos 90 anos da morte de Manoel Affonso Cunha)

  

Desde a minha adolescência, eu sempre me interessei por fatos narrados por meus pais e por minhas avós e, assim, meu horizonte ficou ampliado a respeito de acontecimentos antigos.  Eles, também, tinham os seus ídolos, falando com entusiasmo sobre os mesmos.

Os de meu pai eram D. Pedro II, Nilo Peçanha, Oswaldo Cruz, Mário Pinotti. Pelo escritor Euclides da Cunha, a sua admiração era tanta, como se tratasse de uma pessoa da nossa família, de um antepassado, e quanto à sua obra “Os Sertões”, uma verdadeira Bíblia Sagrada.

Por incrível que pareça, quando meu pai, Salim Lopes, em 1932, organizou o seu consultório médico – na parte térrea de sua residência, na Rua Viana do Castello (hoje, Fernando Bizzotto) – foi vizinho de um dos filhos de Euclides da Cunha, o Manoel Affonso, que residia na mesma rua, no nº 80, fundos (atual Ed. Anita Bizzotto), sendo um dos seus primeiros clientes.

Na verdade, eles já se conheciam desde 1930, quando Salim , recém-formado, lecionava  Química e Ciências Naturais, no Colégio Modelo que, na época, funcionava na Rua Leuenroth, no prédio do antigo Hotel Leuenroth (só mudaria para a Praça do Suspiro por volta de 1935-36). Ele era contador – na época, chamado de guarda-livros – desempenhando as suas funções na tesouraria e na secretaria do citado colégio.

Manoel Affonso era casado com D. Albertina dos Santos Cunha, irmã de D. Zélia dos Santos Côrtes, esposa de Carlos Côrtes (fundadores do Colégio Modelo, em 1919, em Cordeiro) e do Prof. Walter Santos, o “Professor Waltinho”, sendo chamado de Afonsinho, por seus familiares e, ainda, conhecido por Cunha. Praticava esporte, sendo um dos jogadores do time do Fluminense Atlético Clube, cujo campo ficava ao lado da Capela de Santo Antônio, no Suspiro, gostando de participar de um jogo de bilhar (era o bilhar francês, sem caçapa, que por isso não deve ser confundido com a sinuca, que só predominaria, tempos depois).

Como Salim e Manoel Affonso apreciavam  tal modalidade esportiva, muitas vezes, jogavam várias partidas  de bilhar, no salão de um amplo bar, “A Serrana”, localizado onde, hoje,  se encontra o Edifício Elias Caputo,  esquina da Praça  Dermeval B. Moreira com a Rua Farinha Filho.  Regulando a mesma idade, pois Manoel Affonso era apenas quatro anos mais velho que Salim, uma sincera amizade os uniu, infelizmente, por pouco tempo.

Em 29 de junho de 1932, Salim assinava o atestado de óbito do seu vizinho e amigo Manoel Affonso que, vitimado pela tuberculose, faleceu em sua residência, aos 32 anos de idade, deixando os filhos Maria, Norma, Eliete e Euclides da Cunha Neto, sendo sepultado no cemitério de Cordeiro, na época, pertencente ao município de Cantagalo.

Portanto, dos filhos de Euclides da Cunha, somente Manoel Affonso lhe assegurou a descendência, tendo morrido de causa natural. Os outros dois,  Solon e Euclides Filho morreram de forma violenta: o primeiro, numa emboscada, na região do Acre, ao proceder a uma diligência policial; o segundo, morto por Dilermando de Assis, assassino de seu pai, na tentativa de vingar a sua morte.

Meu saudoso pai, Salim Lopes, no dia 7 de maio de 1986, foi com a família a Cantagalo, com a finalidade de doar ao acervo do museu “Casa Euclides da Cunha”, uma cópia do atestado  de óbito de Manoel Affonso.

Ele dizia: “Sempre valorizei muito a amizade espontânea e sincera que me unia a Manoel Affonso. Ele era, além de um cliente, um amigo. Sinto um certo orgulho e consolo, justamente, por ter podido conviver, ainda que por pouco tempo, com o filho daquele gênio que aprendi a admirar e a cultuar, desde o tempo de estudante, como interno do famoso Colégio Brasil, em Niterói, dos grandes educadores, professor João Brasil e de sua esposa, D. Magnólia Brasil”.

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