Friburgo: Pesquisadores descobrem sapo menor que moeda de 1 centavo

04/12/2022 07:41:03
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ESPÉCIE RARA: ANFÍBIO SÓ É ENCONTRADO ENTRE THEODORO DE OLIVEIRA E MACAÉ DE CIMA


Por Thaís Pimenta, Terra da Gente

Descobrir uma espécie já é algo difícil, agora imagine encontrar um animal que é menor do que uma moeda de 1 centavo e vive escondido na imensidão da floresta? Um desafio e tanto.


Mas foi o que aconteceu com pesquisadores que encontraram o pingo-de-ouro-clarissa (Brachycephalus clarissae). Os ecólogos da UERJ estavam expedição em Nova Friburgo, quando viram anfíbio muito pequeno entre o folhedo do chão da Mata Atlântica. As cores diferentes do sapinho chamaram a atenção.


“Eles costumam ter tom abóbora brilhante, e esse anfíbio era muito diferente. Ele tinha a barriga amarela, manchas avermelhadas pelo corpo e uma marca em forma de ‘X’ nas costas, foi quando passamos a investigar a possibilidade de ser uma nova espécie”, conta o pesquisador José Pombal Jr, um dos autores do estudo que descreve para ciência esta nova espécie.


Os sapinhos popularmente chamados de pingo-de-ouro, sapo-pulga ou sapo-abóbora vivem na Mata Atlântica da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira brasileiras. Muitas espécies são coloridas, um alerta para a presença de uma neurotoxina muito potente em sua pele, fatal para seus predadores.


Até onde se sabe esse anfíbio ocorre apenas numa área muito restrita da região. Brachycephalus clarissae é conhecido apenas em duas localidades (Theodoro de Oliveira e Macaé de Cima) distantes cerca de 6,5 km uma da outra, no município de Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro.


“Esses sítios estão localizados na porção leste da Serra dos Orgãos. Apesar de estar próxima à região metropolitana do Rio de Janeiro, uma das regiões mais populosas do Brasil, a área de ocorrência conhecida da espécie está contida em uma área protegida de Mata Atlântica em sua maioria bem preservada”, explica.


HOMENAGEM
O nome da nova espécie faz homenagem à pesquisadora e professora Clarissa Canedo da UERJ que é especialista em anfíbios brasileiros.


Durante um estudo ecológico mais amplo desenvolvido por pesquisadores da UERJ na região de Nova Friburgo foram encontrados os primeiros sapinhos que logo chamaram a atenção da equipe.


“Devido a uma colaboração duradoura e profícua fui chamado para fazer parte do estudo destes exemplares relembra o pesquisador José Pombal Jr, curador de anfíbios do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro”, conta.


Com essa nova descoberta, o gênero Brachycephaluspassa a ter 38 espécies, das quais 82% foram descritas desde 2000. O pingo-de-ouro Clarissa é sem dúvida um dos tesouros escondidos da Mata Atlântica. “Esses sapinhos são muito difíceis de encontrar, porque eles são muito pequenos,. menor do que uma moeda de 1 centavo”, destaca.


Outra curiosidade é que esse anfíbio não passa pela fase larval (girino), como a maioria das espécies de sapos que existem no mundo. “Ele já nasce assim, como um sapinho miniatura e chega a 8.7 a 9,6 mm, nos caso dos machos e até 10.9 mm para as fêmeas. Inclusive, a anatomia desses minúsculos bichinhos desafia a ciência e temos buscado entender um pouco mais sobre o motivo deles terem esse tamanho”, destaca.


Pombal destaca ainda que os cientistas se preocupam com a preservação dessa nova espécie é de outras que ocorrem na mesma região. “Precisamos ter uma ideia sobre quais são as espécies e onde estão para definir as áreas prioritárias de conservação. Perder uma população qualquer desses pequenos sapos possivelmente significaria a extinção completa da espécie o que é bastante grave. Nosso intuito é justamente evitar que isso aconteça. Por isso é importante não pararmos com esses estudos”, afirma ele.
Para chegar à conclusão de que se tratava de uma nova espécie, pesquisadores estudaram morfologia externa do sapo e fizeram a análise molecular e osteologia do animal.

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