Região: Onça-parda é flagrada na portaria de condomínio residencial

15/09/2022 17:31:51
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ANIMAL FOI FLAGRADO POR CÂMERA DE SEGURANÇA –


por Jornal Extra


Os moradores de um condomínio de casas no bairro de Quebra Frascos, em Teresópolis, na Região Serrana do Rio, receberam uma visita especial na madrugada de terça-feira, 14/9. Ninguém viu presencialmente, mas uma onça-parda foi flagrada por câmeras de monitoramento na portaria do residencial, às 4h12. Nas imagens é possível ver que depois de dar uma voltinha no condomínio, o felino pula em direção ao sítio vizinho à propriedade, localizada na Estrada Francisco Smolka.


A visita, no entanto, não assustou moradores. Renata Gouveia, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Quebra Frascos e moradora do condomínio, disse que é motivo de celebração entre os vizinhos quando ficam sabendo de visita de onça, raposa e outros animais silvestres por lá. Segundo ela, tinha gente na guarita do condomínio na hora que a onça passou, mas eles viram mesmo foi pelas imagens da câmera.


– Não é algo que nunca aconteceu na área. O bairro é cercado pela floresta, o pessoal já está acostumado. A gente que mora aqui vibra, fica feliz da vida quando tem esses animais. É bacana. O Parque Nacional Serra dos Órgãos (que cerca o bairro) tem um guia de convivência com animais silvestres, como reagir, o que fazer. Então, foi tudo tranquilo, nada assustador – conta Renata, que teme a diminuição da presença animal com as ameaças de desmatamento na região por causa da especulação imobiliária.


– O bacana de morar nesse bairro é ter essa aproximação com a natureza, mas a gente está preocupado, porque, nos últimos anos, a região tem sido alvo de muita especulação imobiliária. O bairro é uma zona de amortecimento dos parques naturais, funciona como um corredor ecológico. Ainda tem fragmentos extensos de floresta preservados. Os moradores mais antigos chegam a chorar com a possibilidade de desmatamento – relata.


HABITAT NATURAL
O biólogo Ricardo Mello, que trabalha no Parque Natural Montanhas de Teresópolis e desenvolve pesquisas sobre os grandes felinos da região, foi acionado por um colega do Parque Nacional Serra dos Órgãos (Parnaso) sobre a aparição no condomínio e confirmou que não é novidade para o município a presença da onça-parda.


– Teresópolis tem um diferencial porque tem três Unidades de Conservação no seu entorno, que formam um cinturão: o Parque Estadual dos Três Picos, o Parque Natural Municipal Montanhas de Teresopolis e o Parque Nacional Serra dos Órgãos. Esse condomínio fica muito próximo da floresta e provavelmente a onça passou pela borda e achou um atalho no caminho para chegar a uma área de mata – explica o biólogo.


A onça-parda é um animal que percorre longas distâncias e, por esse motivo, arrisca mais a aproximação em meios rurais e urbanos que ficam entre fragmentos de floresta, conforme explica Ricardo.
– Ela precisa se deslocar para alcançar áreas mais estáveis para se reproduzir e se alimentar. Claro que a onça-parda evita esse contato, mas acaba se aproximando das áreas urbanas. Por isso que tem, inclusive, muitos relatos de atropelamento em estradas – exemplifica o biólogo.


O maior aparecimento de indivíduos na região, no entanto, não significa que aumentou a população do animal, segundo Ricardo, mas sim os registros.


– As câmeras estão mais acessíveis, as chamadas câmeras “trap”, que são as armadilhas fotográficas, têm estado mais presentes nas unidades de conservação, nos condomínios e casas, facilitando o registro – informa o pesquisador.


Ainda assim, ver o animal circulando por aí no estado do Rio é, segundo Ricardo, um indicativo de qualidade do ambiente que deve ser celebrado.


– Ter um animal desses no estado do Rio é mais um ponto positivo, porque ele é um bio indicador. Se a gente tem uma onça-parda que está no topo da cadeia alimentar, significa que a toda a cadeia que está abaixo dela está saudável. É um indício muito bom de que tem representantes de uma fauna que está bem e um ecossistema saudável – comemora o biólogo.


O QUE FAZER SE ENCONTRAR UMA ONÇA-PARDA
Caso esteja andando numa trilha, em um sítio ou em um condomínio como esse da reportagem e acabe esbarrando com uma onça-parda, a recomendação é manter a calma e conter o impulso de virar de costas e sair correndo ou de jogar coisas no animal.


– É importante manter a calma, não fazer nada e deixá-la ir embora. Caso esteja a uma distância curta e deseje espantar o animal, levante os braços e grite alto e firme, porque assim vai assustar a onça. Se ela está longe, só observa. Se caminhar na sua direção, evite virar de costas e sair correndo. O ideal é manter olhar fixo na onça e andar para trás devagar. Se ficar parado e não fizer nada, ela não ataca, ela segue o caminho dela – orienta Ricardo.


De acordo com o biólogo, esses animais costumam perceber a nossa presença bem antes e tendem a evitar contato com o ser humano e seguir caminho. Os registros de ataques são raros – ele relatou existir três casos no Brasil, sendo um na Amazônia.


– Só para ter uma comparação, eu trabalho com onça desde 2019. Eu vou nas áreas que já tiveram registro, eu procuro a onça, vejo por onde ela passa nas câmeras e eu nunca achei uma. E olha que eu procuro. É realmente uma sorte grande encontrar um animal desse – disse.

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